5 de maio de 2024
Colunistas Walter Navarro

Olha aqui, Mr. Musk

Crianças; acredito ativa, ou passivamente – para quem aprecia – que todos saibam quem é Elon Musk.
Só não sei se ele é muito rico por que é inteligente ou é muito inteligente porque é rico.
Só sei que, como queria Jean Giono, um rei sem diversão é coisa muito perigosa.
Outra coisa, da qual tenho certeza, é de que Elon Musk, além do nome estranho, é um robô. Ele parece o Ken, namorado da Barbie.
Todo bonitinho, limpinho, brilhante. Me lembra o saudoso João Dória, o popular e copular “Calcinha Apertada”.
Por falar em calcinha apertada – que adoro, em mulher – tenho outra dúvida atroz sobre o presidente esquisitão da Ucrânia.
Eu daria minha coleção da revista Playboy a quem me explicasse, por que Volodymyr Zelensky só se apresenta ao mundo usando aquelas camisetas apertadinhas, tipo, “Mamãe sou forte”.
E por que Volodymir e não Vladimir como o Putin? Coisas da Ucrânia… Mas da Ucrânia falarei com mais vagar, daqui a pouco.
Voltemos ao alienígena Elon Musk.
O Homem foi à Lua, em 1969. Ótimo! Mas, afinal, para quê? O que ganhamos; além daquela frase bonita do Neil Armstrong: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”?
Fincar a bandeira dos Estados Unidos numa bola cheia de crateras? Pegar umas pedras como “souvenir”? Realizar o sonho de Jules Verne?
Sinceramente, pra que irmos encher o saco da Lua, se aqui de baixo, ela é tão mais bonita em suas quatro fases?
Outra coisa sem sentido é ficar lançando missões, estações espaciais e lixo no Universo. Yuri Gagarin já disse que a Terra é azul, mesmo com gente aqui na terra jurando que a alface também é.
Agora eles querem Marte!
Americanos, russos, chineses e até brasileiros sonham conquistar o Espaço e repito: para quê? Para abrir outra Drogaria Araujo?
O Homem ainda não sabe cuidar da Terra e já quer estragar outros planetas?
Nada contra o progresso, muito pelo contrário. A Ciência, a tecnologia, com a inteligência humana, é uma maravilha: inventou o Raio X, a penicilina, a anestesia, o bidê, o elevador e a escada rolante.
Como se não bastasse, e não basta, criou a arte.
Acontece que, em pleno Século 21, a miséria humana é enorme: na fome, nas doenças e guerras. Com o dinheiro da Lua, Marte e arrabaldes; seria possível, pelo menos, amenizar as dores do mundo, as reais, as que matam e aleijam, corpos e almas, todos os dias.
É como ter uma casa linda e perfeita; destruí-la e sair procurando outra. E achando que vai achar!
O Homem quer ir a Marte que o pariu e ainda não curou o câncer, a cárie. Gasta bilhões, trilhões, em guerras inúteis para ganhar centavos. Já escrevi isso. Guerra só é bom no Cinema. Basta a mais recente, nunca última, na Ucrânia.
Por falar nisso, por que o Volodymyr Zelensky só se apresenta ao mundo usando aquelas camisetas apertadinhas?
Muitos brasileiros esnobam, desperdiçam; importam carros que custam milhões, enquanto quase metade da nossa população é pobre; não tem água tratada, nem esgoto.
O saudoso Bussunda tinha uma máxima muito engraçada e cruel: “Pobre é foda, passa o ano inteiro dizendo que tem nada e, quando vêm as enchentes e deslizamentos, diz que perdeu tudo”.
Os ricos fazem a mesma coisa. Vivem de corrupção, calotes e crises. Reclamam de barriga cheia, choram, economizam, cortam o social, roubam, escondem dinheiro, exploram os países mais miseráveis do mundo; mas quando vem uma pandemia que mata os mesmos ricos; surgem bilhões, chove dinheiro até para vacinas inúteis.
O Homem não incentiva a inteligência natural do próprio Homem e já inventou a Inteligência Artificial. Nada mais idiota.
O nome, artificial, já explica tudo: é algo de mentira, falso.
Só um exemplo: o peito de uma mulher, mesmo meio flácido, ainda é muito mais gostoso que uma bola dura de silicone. Quem gosta de mulher verdadeira, de verdade, sabe disso.
Todo este preâmbulo é para voltar a bilionário Elon Musk que não sabe onde enfiar todo o dinheiro que tem.
Há algumas semanas me contaram e mostraram uma coisa que me deixou catatônico.
Trata-se de um programa, um “chat”, chamado GPT que, imita o estilo de grandes escritores.
Na verdade é muito mais que isso. E será muito pior e melhor que isso.
Não vou me alongar, entrar em detalhes, porque, para variar, este texto já está muito longo. E sem copiar!
Elon Musk, o Vale do Silicone e do Botox estão por trás, pela frente e pelos lados deste GPT.
É uma coisa “perfeita”, inventada para copiar e escrever, por quem não sabe fazer uma coisa nem outra.
Vou dar só um exemplo. Você entra neste GPT, escolhe um tema, uma situação, uns personagens e pede que ele escreva um texto no estilo de um grande escritor como Marcel Proust, Guimarães Rosa, Shakespeare, etc.
Pronto! Em segundos, você terá e será autor de um legítimo texto de Marcel Proust, Guimarães Rosa, Shakespeare. Isso, claro, se você for um pacóvio que nunca leu Marcel Proust, Guimarães Rosa, Shakespeare e gostaria mesmo é de imitar Paulo Coelho.
Entenderam? É como falsificar uma tela de Picasso. E eu, sinceramente, prefiro uma boa cópia de Picasso. Assinada!
Imediatamente, esta farsa idiota e repito, literalmente, artificial, me lembrou outro grande escritor que, em breve, também poderá ser roubado, imitado, falsificado.
Estou falando de uma pequena crônica de Vinicius de Moraes, da boa safra de 1962, ano em que fui inaugurado, escrita no Rio de Janeiro.
Vou tentar resumir.É assim:
Olhe aqui, Mr. Buster.
Este poema é dedicado a um americano simpático, extrovertido e podre de rico, em cuja casa estive poucos dias antes de minha volta ao Brasil, depois de cinco anos de Los Angeles, EUA.
Mr. Buster não podia compreender como é que eu, tendo ainda o direito de permanecer mais um ano na Califórnia, preferia, com grande prejuízo financeiro, voltar para a “Latin America”, como dizia ele.
Eis aqui a explicação, que Mr. Buster certamente não receberá, a não ser que esteja morto e esse negócio de espiritismo funcione.

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills.
Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue, o Sr. tenha um caco de friso do Partenon e, no quintal de sua casa, em Hollywood, um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia.
Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas e suas portas se abram com célula fotoelétrica.
Está tudo muito certo, Mr. Buster. O Sr. ainda acabará governador do seu estado e sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas.
Mas me diga uma coisa, Mr. Buster. Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal? O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?

PS: Olhe aqui, Mr. Musk. O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha, com cachaça? O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal, em Barbacena? O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Atlético Mineiro?

Walter Navarro, Los Angeles, 6 de Abril de 2023

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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