3 de maio de 2024
Colunistas Walter Navarro

Eles passarão, nós passarinho

Quantas Copas do Mundo cada um de nós ainda verá? Mistério. Eu, por exemplo, levei 60 anos pra ficar velho, da noite para o dia. Numa dessas, é a segunda vez que acompanho os jogos em um hospital.

Na Copa da Rússia, 2018, eu estava internado no Lifecenter, em BH, com um grave problema naquele lugar onde eu gostaria muito de mandar várias pessoas tomarem. Não mando porque a maioria vai gostar.

Lembro-me de, logo antes da cirurgia, estar numa maca, cercado por enfermeiras e técnicos em enfermagem. Uma sala fria, cheia de gentileza e calor humano. Santa profissão!

Nesta Copa, acabo de passar dois dias no hospital Ibiapaba, em Barbacena, acompanhando minha querida irmã, Adriana que, dia 12, literalmente, trocou um dos joelhos por uma prótese de cromo cobalto, importada dos Estados Unidos.

Cirurgia deveras invasiva. As fotos, que minha outra irmã, Nívea, enfermeira, fez no bloco cirúrgico, justificaram a aversão que sempre tive pelas iguarias pé e joelho de porco.

Nem o famoso restaurante, “Au Pied de Cochon”, em Paris, me pega. Lá só entrei uma vez, para conhecer e admirar as panelas.

Com as fotos, Nívea brincou dizendo que Adriana agora seria biônica. Lembrei da mais sangrenta peça de Shakespeare, “Titus Andronicus” e também da série “O Albergue”.

Quem não tem o amor correspondido sofre com dor de cotovelo. Parece-me que, no caso de Adriana, quem tem amor demais a distribuir sofre com o joelho. Confirmei que, na família, ela é a mais forte e a mais frágil ao mesmo tempo.

Impossível não lembrar que, dia 11 de abril de 2001, meu pai morreu de um AVC, no mesmo Ibiapaba. Também já frequentei o CTI e um quarto daquele hospital, em 2015 e 2017.

Meu pai morreu sem ver o Brasil Penta, em 2002. Em compensação, escapou de ver o ladrão ser eleito pela primeira vez, no mesmo ano.

Meu pai não teve sorte. Eu e minha irmã não temos o que reclamar do Ibiapaba, onde muitos profissionais, dos médicos às faxineiras, trabalham com amor, dedicação e respeito. Algumas enfermeiras, 12 horas por dia, sem lagosta e vinhos importados à hora do almoço.

Não temos o que reclamar em atendimento, mas algumas sugestões para o hospital: elevadores para completar as infinitas rampas; duchinha higiênica ao lado do vaso sanitário; TV a cabo ou uma Netflix qualquer.

Contar só com a Globo e similares é uma tortura a mais pra quem já está sofrendo e longe de casa.

Assim, mesmo neste clima hospitaleiro e hospitalar, fui até a lanchonete, em frente ao hospital, para ver a Argentina massacrar a Croácia.

Com certeza, todos os patriotas lembraram que o jogo deveria ter sido Argentina x Brasil. Por que não foi? Simples, por causa daquela bosta de técnico da Seleção Brasileira.

Desde que fomos desclassificados vi muita gente criticando, insultando e jurando de morte o imbecil. Como o ex-jogador e apresentador Neto; o ex-jogador Gérson, tricampeão em 1970 e até a Jojo Todynho! Gente, ser criticado pela Jojo Todynho é o fim de todas as picadas.

Outra que escreveu um texto primoroso foi a deliciosa ex-jogadora de vôlei e agora ótima comentarista política, Ana Paula Henkel. Ela chamou o idiota, eleitor do ladrão, de covarde, por ter abandonado o time em campo, no final do jogo.

Sou obrigado a discordar da bela Ana Paula: o acéfalo deveria ter abandonado a seleção, no mínimo, há quatro anos, depois da vergonha que passamos na Rússia.

Quem tiver paciência ou curiosidade pode procurar e achar o que escrevo sobre ele, até mesmo antes da Copa de 2018.

É duro ser o Profeta de Ontem, sozinho. Por que ninguém falou nada antes, bem antes? Por que só agora, depois da morte anunciada?

Dia 4 de dezembro, bem antes da Croácia, mais uma vez, gritei no deserto. Foi no texto: “Camarão é a Mãe, Meu Nome é Lagosta!”. O mínimo que escrevi foi: “Um bosta, com cara e caráter de merda…”.

O cara é burro, mas esperto, como todo petista. Fode o Brasil e fica rico. Só em salários; ganhou, sozinho, uma Mega-Sena acumulada.

Que o próximo técnico aprenda, pelo menos, algumas lições de bar. Como escalar jogadores de times campeões do Brasileirão ou da Libertadores.

Não sou Mãe Dinah apenas no futebol. Em 2002, fui um dos raros a escrever e antecipar a tragédia de termos o ladrão como presidente. E olha que ele ainda nem tinha sido eleito, nem tinha começado a roubar. Pelo menos como presidente.

É de dar vontade de ir para Irã ou Afeganistão. Tive ânsia de vômito como o pouco que vi da diplomação da Besta. Também já vi velórios mais animados.

Diplomar o Carniça é como regar uma cerejeira com cimento.

Por outro lado, nunca vi tanto especialista em Constituição. Os mesmos que eram PhD em Covid-19.

Impossível jogar dentro das quatro linhas de uma Constituição, fajuta por natureza e que tem tantas linhas tortas. É como o rio de Guimarães Rosa, com três margens.

Sinceramente, não quero o Brasil em outra Guerra do Paraguai, desta feita, no papel de Paraguai, mesmo porque, basta abrirmos a tampa da garrafa e o bêbado cai da rampa.

Ah! No hospital também faltou uma mesa, foi difícil escrever, por isso levei dois dias para terminar este texto.

Mas tudo bem. Voltamos para casa e agora tenho tempo para a salomônica escolha de Sofia, no domingo: minha querida França ou meu querido Messi?

Que o melhor empate!

PS: Divulguei isso para trezentos. Se os trezentos divulgarem para outros trezentos, serão 90000. Se os 90000 divulgarem para 90000 serão 8100000000 e se estes divulgarem para 8100000000, perdi as contas. É fácil entender o medo dos Tribunais e da esquerda. É tão rápido quanto, sei lá.

Walter Navarro, Paris e Buenos Aires, 13 e 15 de Dezembro de 2022.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *