ACABOOOU, ACABOOOU, ACABOOOU!
Eu, Galvão Bueno e milhões de pessoas no mundo todo, muito provavelmente soltaram um grito semelhante a este pelo fim desse ano maledetto.
Só que nós brasileiros, além de determos o jargão do mais famoso comentarista de esportes do país, ainda temos muito mais motivos para nos esgoelarmos.
Foi mais um ano que passou sem que tivéssemos visto progresso importante nos vários setores que estão parados pela pandemia (compreensível até) e menos ainda naquilo que depende de nosso presidente.
Tinha prometido a mim mesma que não terminaria o ano falando do Bolsonaro, só que fica difícil quando ele vira notícia ou meme por aí.
Revistas e jornais do mundo todo publicam com destaque as imbecilidades proferidas por Jair Bolsonaro, e comentam sobre sua falta de sensibilidade e de competência ao lidar com assunto tão sério: a saúde!
— Vacina? Por que a pressa? Vamos esperar que não dê reação. Como confiar numa vacina que acabou de sair? (O mal informado não sabe que esses Coronavírus (SARS-Cov, MERS-Cov) causadores de infecções respiratórias vêm sendo estudados há mais de 10 anos por cientistas que já estavam prevendo que, mais dia menos dia, chegaria um parente próximo deles pra fazer um baita estrago).
— Pra que se vacinar se já temos a cloroquina (aliás, uma montanha estocada no laboratório do Exército, porque o “doutor” Jair resolveu comprar toneladas de sal de cloroquina da Índia para que fossem produzidos zilhões de comprimidos que comprovadamente não servem para combater a doença). Temos também a invermectina, esqueceram? (Nesse caso, se a gente quiser ver o lado bom da coisa, basta olhar para as cabeças dos pacientes internados por causa da COVID-19 que fizeram uso desse medicamento: nenhum deles com piolho. Ói que maravilha!).
— Já pensaram que de repente, vocês tomam a vacina e viram jacarés? Hahaha! (Isso foi tão “engraçado” que Bolsonaro virou motivo de chacota aqui e lá fora).
— Máscara? Pra que máscara? Isso é coisa de viado! Além de ser ineficaz ainda pode fazer mal à saúde porque a pessoa fica inalando CO2. (Deve ter chegado a essa conclusão lendo a revista Jair’s Science).
— “Vachina” do calça apertada aqui não, pirulão. Nem que a vaca tussa! A gente comprou aquela da Oquisforde ou foi a da Estrovenga Pazu? Ah, não é assim que fala? Tudo bem, mas a gente comprou? Ah, não comprou? É verdade. A gente não comprou nem essa nem outra porque esses laboratórios não se responsabilizam pelos efeitos colaterais, e também porque parece que não estão nem aí pra vender. Nenhum deles veio perguntar se a gente queria comprar suas mercadorias. Quem tem pra vender é que tem que ir atrás do comprador, não é assim que funciona?
Mas não se preocupem, não fiquem angustiados. O secretário executivo do Ministério da Saúde falou que a vacinação começa no dia 20 de janeiro. Ou, num “cenário médio”, entre essa data e 10 de fevereiro, ou num “cenário menos favorável”, a vacinação poderá ocorrer a partir de 10 de fevereiro. Ou… (Ufa! Agora estou tranquila com essas previsões. Só não plenamente porque no dia seguinte a essas “informações”, o Ministério da Saúde teve de tentar tapar mais um buraco nesse barco que já estava afundando. Das 331 milhões de seringas necessárias para aplicação da vacina, Didi Mocó, Dedé, Mussum e Zacharias só conseguiram garantir 7,9 milhões, ou seja 3% do esperado).
Viram por que eu não queria falar sobre o esse governo? Não queria ter de lembrar dessas barbaridades todas. Preferia terminar o ano cheia de otimismo e passar isso para quem me acompanha aqui. Mas não deu! Vou ficar devendo!
Ainda assim insisto em desejar a todos um Ano Novo muito melhor do que esse que se foi.
E se na virada quase sem fogos você não aproveitou para bater panelas ou imitar o Galvão Bueno, ainda dá tempo. Saia na janela e grite com força: ACABOOOU, ACABOOOU, ACABOOOU!
Quem sabe a força da palavra sirva para acabar também com tudo o que nos incomoda.
Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.