28 de abril de 2024
Editorial

Uma ligação estreita e estranha

O jornal O Estado de São Paulo publicou a presença de uma criminosa, condenada numa audiência no Ministério da Justiça (MJ).

Quem é ela?

Foto: Brasil247

Ela é Luciane Barbosa, conhecida como a Dama do Tráfico, condenada por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Chega? Não, além disso, ela é mulher de um dos líderes do Comando Vermelho (CV) no Amazonas. Ela participou de reuniões em Brasília, com agendamento da deputada do PSOL Djanira Rocha, vice-presidente da “Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia do Rio de Janeiro” (nome comprido, não?)

A Dama do Tráfico foi condenada a 10 anos de cadeia, mas, como acontece no Brasil, foi autorizada a cumprir sua pena em liberdade. A referida deputada, organizadora do encontro, Djanira Rocha, foi condenada em 2021, pelo esquema de rachadinha com salários de assessores da ALERJ. Coisa comum na ALERJ.

Tem mais: o marido de Luciane Barbosa, é Clenilson Santos Faria, vulgo “Tio Patinhas”, considerado o criminoso número 1 do Amazonas, cumprindo pena de 31 anos de prisão, em presídio federal.

É, absolutamente inconcebível, que uma bandida condenada, consiga ir, não só a uma, mas pelo meno duas audiências em um órgão do Governo Federal, muito menos no MJ.

O fato é: “bandida vai ao ministério que cuida do combate aos bandidos”!

Como ela conseguiu acesso ao Ministério da Justiça? Com quem iria falar? Por quê? Estamos falando aqui do Ministério da Justiça e Segurança Pública, então como a Dama do Tráfico conseguiu estar presente nestes encontros?

Ela se apresenta, também, como “Presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas”, uma ONG que defende os direitos dos presos – obviamente – mas não passa de uma fachada para atuação do CV. Esta associação foi criada no ano passado e que seria financiada com a grana do tráfico de drogas.

Como os nossos controles em Brasília não conseguem detectar esta pessoas ao adentrar o Ministério da Justiça e Segurança Pública?

Explico: em Brasília, é muito comum os caronas nas reuniões, ou seja, você consegue uma audiência com algum órgão federal e leva como acompanhante uma, duas ou três pessoas. Pelo atual sistema de segurança, somente a pessoa que agenda a reunião é verificada. Seus acompanhantes são apenas identificados na portaria e vão às reuniões. Foi assim, de carona da mencionada deputada do PSOL que ela entrou.

Agora vem a público o Secretário de Assuntos Legislativos do MJ – Elias Vaz – assumir a responsabilidade por este absurdo acesso. E daí? “Foi mal, errei, mas vou melhorar o sistema de acesso”. E vida que segue? Nenhuma punição? Nenhuma responsabilização? Não pediu demissão e nem foi exonerado?

Depois vem o ministro Flávio Dino, especialista em apagar incêndios do governo, e diz que: “nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho…”. Ele se defendeu, mas não defendeu seus secretários que receberam a criminosa.

Flávio Dino continua na sua missão de resposta seletiva: se é amigo, ele defende; se é inimigo ele senta o pau!

Já que o ministro não estava inserido no problema, ele deveria, no mínimo, exonerar os seus secretários que receberam a criminosa, exigindo a imediata atualização do sistema de segurança de acesso ao ministério e, principalmente, pedir desculpas ao país.

Não dá pra diferenciar o ministro do ministério. O que acontecer no ministério é culpa do ministro, queira ele ou não, assim como não dá pra diferenciar o Ministério do Governo. O Presidente Lula precisaria se manifestar sobre o assunto sem dizer que são “narrativas da oposição”. E o fez:

Lula afirmou que “o Ministério da Justiça tem coordenado ações de enorme importância para o país” e que, por essas razões, tem despertado muitos adversários “que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas”. Lula disse ainda, que Flávio Dino é “alvo de ataques artificialmente plantados”.

Ora, presidente, como artificialmente plantados se a Dama do Tráfico, comprovadamente, foi recebida em reuniões no MJ?

Como se não bastasse tudo isso, há provas de que o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, do governo Lula, financiou as passagens aéreas e a hospedagem da referida Dama. Agora diz que: “tem orçamento próprio, e que todos os participantes dos eventos foram custeados”. Isso não desculpa o fato de que, entre os beneficiados por esta mordomia, estava a Dama do Tráfico. Este fato foi confirmado pela própria Luciana em entrevista.

O governo vem publicando posts e notícias negando os fatos concretos denunciados pelo Estadão. Não é Fake news, não é produto de inimigos, não é nada disso, é uma reportagem apurada pelo Estadão mostrando que o governo tem estendido o tapete vermelho para a Dama do Tráfico. E isso é verdade!!!

Ninguém está acusando o Presidente e nem o Ministro da Justiça diretamente, mas o fato de a Dama do Tráfico ter sido recebida, no Ministério da Justiça, mais de uma vez, é um fato grave – gravíssimo – que compromete, tanto o Governo quanto o Ministério.

Aliás, em qualquer país sério, este fato resultaria na imediata demissão do ministro, mas como ele não o foi, e o presidente até o defendeu, solidarizando-se a ele como de costume, o ministro deveria ao menos exonerar os secretários responsáveis pela recepção da Dama do Tráfico.

Ela tirou fotos com auxiliares do ministro Flávio Dino, sem a menor preocupação, muito à vontade com membros do MJ e publicou em suas Redes Sociais..

Foto: Luciane Barbosa (4ª da esquerda para a direita) ao lado de Elias Vaz, secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, em 19 de março.
Foto: Reprodução/ Instagram

A crise de segurança que atinge a Bahia e o Rio de Janeiro, somados ao episódio da visita da Dama do Tráfico ao MJ enfraqueceram, em muito, o nome de Flávio Dino para ocupar a vaga do STF, salvo se Lula estiver muito comprometido com ele.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *