Todo ano é igual àquele que passou.
Que novidade! Em janeiro chove torrencialmente no Rio de Janeiro. Chega a ser irônica a frase que se repete todo ano, em todo verão, há muitas décadas: “choveu, em um dia, mais do que o previsto para o mês”. Os cariocas, conhecidos pelo seu bom humor, já dizem: “Choveu? Alagou!”
Mais uma vez, fomos “surpreendidos” pelas fortes chuvas, que todo ano caem na cidade e nos arredores nesta época, causando transtornos e perdas de vidas e de patrimônio.
Todo mundo sabe – e não é de hoje – que esta época é propícia a chuvas pesadas, temporais inevitáveis e desabamentos (estes, claro, devido principalmente ao crescente desmatamento dos morros da cidade). Sem falar nas inundações, bolsões d’água e similares. Tudo porque o que deveria ser feito durante o ano inteiro simplesmente não é feito.
As causas são conhecidas de todos: falta de dragagem dos rios e canais; a limpeza de bueiros; a sujeira jogada nos rios pela população e construções irregulares em encostas. Enfim, causas que poderiam, perfeitamente, ser evitadas se houvesse atuação dos governantes e o não incentivo de legisladores/governantes às invasões de áreas proibidas.
Esperam acontecer a catástrofe para ficar dando explicações inúteis, como se a culpa fosse só da população ou de fenômenos inesperados da natureza.
A verdade é que as obras que poderiam evitar os alagamentos são de baixo custo e tecnologia plenamente dominada, mas que nunca são realizadas por puro desleixo de nossos políticos. Meu avô já dizia há mais 50 anos: “político não gosta de obras de infraestrutura porque a obra não aparece e não dá ibope”. Ele estava certo!
A população ainda sofre com o descaso e abandono das estruturas urbanas. Além do lixo excessivo nas ruas e nos rios, o asfaltamento é feito sem preocupação com o escoamento das águas das chuvas. Não há campanhas educacionais do estado/prefeitura para conservação da cidade para mantermos a cidade limpa.
Quem é mais velho lembra da figura do “Sujismundo” personagem criado em 1972, em plena ditadura militar, nas propagandas educacionais do governo contra o lixo. Todos que jogavam alguma coisa na rua eram taxados de Sujismundo… isso pegou!!!
As chuvas deste ano, de novo, levaram vidas e carregaram bens adquiridos com muito esforço e suor no rosto, alguns ainda sendo pagos em prestações. Em troca, os temporais deixam o desespero estampado no olhar das pessoas que perderam tudo, mesmo tendo quase nada. Derramam lágrimas para enxugar suas almas e nossos políticos fazem caras tristes, criam programas de auxílio e doações, decretando estado de emergência, direcionando valores para ajuda, que nunca chega a quem precisa… e mais nada!
Uma sugestão: por que os parlamentares do Rio de Janeiro (deputados e senadores) não direcionam suas emendas parlamentares para o auxílio às vítimas? Ou para as obras necessárias. Só como exemplo: o túnel extravasor na Cidade Imperial – Petrópolis-RJ – duramente atingida em anos anteriores, com muitas mortes, teve seu progresso a passos de cágado. Ainda está na primeira fase e sem prazo para conclusão. Ele seria uma solução para as enchentes na cidade.
A temporada de chuva passa e as obras ficam no papel e nos discursos. Enfim, a desculpa de “evento catastrófico” não funciona mais.
Dizer que a Baixada Fluminense está abaixo do nível do mar e assim “temos que esperar o nível do mar baixar para a água escoar” é de uma puerilidade inaceitável, haja visto que, por exemplo, a Holanda está abaixo do nível do mar e não temos estas catástrofes. O nível do mar, definitivamente, não é o problema. Nossa engenharia é plenamente capaz de resolver os problemas. Já vimos isso com os piscinões da Praça da Bandeira e na Praça Niterói, que resolveram os alagamentos nas regiões.
A omissão tem causado mortes e prejuízos e os governantes devem ser chamados à responsabilidade! Já é tempo!!!