7 de setembro de 2024
Editorial

Biden, Lula e o etarismo

Eu, como muitos outros na minha faixa etária (70+) já estivemos gripados, roucos, mas, independentemente dos remédios que tomamos, não me lembro de ter sido flagrado por estar agindo de forma hesitante e desconexa. Sonolento sim, algumas vezes, mas não vejo como isso pode ser usado para justificar o péssimo desempenho de Biden no debate com Trump.

Justificar o desempenho com uma forte gripe não cola. Dizer que “foi uma noite ruim que não pode comprometer o que ele fez nos últimos anos”, idem.

A inflação nos EUA está em alta. As pesquisas já apontavam Trump à frente muito antes do debate. As escorregadas do presidente nas aparições oficiais foram inúmeras. Mãos esticadas para cumprimento foram ignoradas, além disso perguntas sobre quem ele(a) é?, em plena solenidade protocolar, mostram que ele “já deu”!

Biden disse: “Não tive a minha melhor noite, mas o fato é que, você sabe, não fui muito inteligente”, falando numa angariação de fundos de sua campanha, sem a ajuda de um teleprompter, muito antes do fatídico debate.

Etarismo?

Etarismo é o nome que se dá ao preconceito contra pessoas com base apenas na sua idade.

O etarismo se mostra presente quando as pessoas são julgadas só pela idade e não pela sua capacidade mental e física. Temos muitos jovens inexperientes que fazem fortunas, mas temos idosos que escrevem livros que se tornam clássicos ou então jornalistas com anos de trabalho que escrevem textos lúcidos e esclarecedores e atores maravilhosos mesmo durante sua idade mais avançada.

A questão é que ninguém deve considerar etarismo a fixação de uma idade mínima para disputar a Presidência, seja em que país for.

Aqui no Brasil, a discussão da idade máxima para o cargo de presidente da República é tabu no Congresso porque, forçosamente, remete à Lula, que disputaria a reeleição com 81 anos e que poderia terminar um eventual próximo mandato com 85 anos.

E aí é melhor empurrar isso para baixo do tapete, porque, para os petistas, Lula está acima do bem e do mal. E acima de todas as limitações da idade que afetam todos os mortais. Menos a ele!

Uma pessoa com 80 anos, ou próximo a isso, queira ou não, estando bem ou não, já não consegue performar como outros de idade mais baixa. Não é etarismo, é fato! Posso afirmar isso com conhecimento de causa. O passar dos anos pesa, e, para quem tem 80 anos, pesa muito mais.

Fico imaginando Lula em 2026 debatendo com candidatos bem mais novos que ele. Seria como Biden no debate: perdido e apagado? A idade pesa, e o descanso e a alegria de viver, curtindo netos e bisnetos, chegam.

Já tendo vivido muitos anos, aprendi a evitar rotular as pessoas pela aparência. Devemos julgá-las pelos seus atos e falas.

Que a idade traz certas limitações e estas aumentam com a passagem do tempo, é fato, mas não podemos usar este argumento para convencer as pessoas de que “está tudo bem”.

Sim, é muito importante estabelecermos em nossa Constituição uma idade máxima para candidatura à Presidência. Não é etarismo. É democracia, é a necessidade de oxigenarmos a alternância de poder, o que torna a democracia mais atraente.

Precisamos urgentemente de uma nova Assembleia Constituinte. A CF de 1988 – a Constituição Cidadã – já ficou pra trás. O mundo mudou demais de 1988 pra cá.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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