26 de julho de 2024
Editorial

A politização da tragédia no RS

Estou muito incomodado com o rumo que está sendo conduzida a reconstrução do RS. De um lado é para aplaudirmos de pé: o exemplo de solidariedade do povo brasileiro! Todo mundo que eu conheço se sente parte do problema e ajudou da forma que podia. Todos entendem o que acontece no RS, que é uma catástrofe sem precedentes, logo temos que ter uma atuação e uma solução sem precedentes.

Chama a atenção, de maneira positiva, a atuação do governo do estado. Não cabe, nesta hora, criticar ou elogiar Eduardo Leite. Ele é governador de um estado que colapsou… 90% dos municípios ficaram debaixo d’água. O que fazer? Como medir? É preciso deixar as águas baixarem para que possa se ter uma mínima ideia.

Em paralelo, Lula está, claramente, tentando usar a tragédia como plataforma para as próximas eleições no estado. Já criou até um ministério de crise, com um nome bonito – Ministério da Reconstrução do RS – para não permitir que Leite tenha muita mídia para incrementar sua reeleição. A ideia inicial era colocar Alckmin, mas como este ministro, é do mesmo partido de Eduardo Leite, isso foi descartado, ainda mais que seu partido não faz parte da base do governo. Daí ele escolheu, “a dedo”, Paulo Pimenta.

Óbvio que Pimenta rebate as críticas de politização de sua indicação, afirmando que é uma visão mesquinha e maldosa acreditar que o presidente criou a estrutura “para controlar a narrativa da reconstrução do estado”. Ele enfatiza que a escolha foi feita para apoiar o momento do estado e nega qualquer intenção política. Deixem-me rir… eles adoram usar o termo “narrativa”.

Pimenta não foi escolhido pelo seu talento executivo, ele será o candidato do PT às eleições para governador no RS. Além disso, Lula quer também promover sua imagem, que não anda bem nas pesquisas.

Foto: Ricardo Stuckert – Revista Oeste

O que me impressiona é que, mesmo com a tragédia em curso, com o clima de enorme comoção no país, partidos e lideranças políticas falem e pensem em eleições municipais.

Fica claro que não é hora de se debater política. Esse não é um bom período para se falar em eleições. O momento é de apoio aos municípios atingidos pelos alagamentos e, principalmente, ao povo gaúcho que perdeu entes queridos, casas, meios de renda e referências importantes para suas vidas. Mas isso colocou em pauta – e em primeiro lugar – a campanha eleitoral para o governo do estado.

Mesmo as hostes petistas viram, no movimento do presidente Lula, uma politização da tragédia ambiental e humanitária. Reservadamente, em off, integrantes do próprio governo admitem que a escolha de Pimenta tem o componente político de se contrapor às ações de Eduardo Leite, que estaria, na visão dos auxiliares de Lula, obtendo dividendos eleitorais.

Será preciso algo parecido com o Plano Marshall para o RS. Como eu disse antes: tragédia sem precedentes precisa de soluções sem precedentes!

Diante de tudo o que está havendo com o clima no mundo, não dá mais pra votar em candidato que não tenha um compromisso efetivo com a questão ambiental, independente da legenda.

A ministra Cármen Lucia já disse: “O que mudou neste país, há mais de um século, foi que a natureza não perdoou o ser humano pelos insultos ambientais provocados”.

A tragédia que destruiu o RS nos mostra com clareza o comportamento dos congressistas. Quando o Poder Executivo determina ações para retirar e demolir as construções irregulares em áreas de risco, os parlamentares de esquerda usam todos os recursos para impedir.

Apelam para o sentimentalismo, exigindo respeito ao direito das pessoas de permanecer nos locais onde nasceram, foram criadas e onde têm laços fortes, mas quando ocorrem as tragédias, eles cobram, das prefeituras, dos estados e da União, medidas urgentes para apoiar os desabrigados e moradias em locais seguros. Incoerência pura!

Não vemos nenhum deputado ou senador participando das campanhas para doações ou trabalhando como voluntário em apoio às vítimas. Continuam, confortavelmente, em seus gabinetes cobrando providências.

Com a proximidade das eleições municipais, as promessas de soluções serão o tema central desses aproveitadores de ocasião em busca de votos, e os eleitores mais uma vez serão enganados.

É ou não é um absurdo politizar a tragédia!!!

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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