29 de março de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

O dia em que Alckmin conheceu a verdade e o chuchu ganhou sabor

No peito dele bate um coração socialista.

Lula inaugura agenda política com Alckmin em encontro com as centrais sindicais. Na foto, eles seguram as mãos levantadas com outras figuras políticas diante de uma plateia que também ergue os braços Metrópoles Luciana Lima/Metrópoles

Aparecida, chamada de Cidinha, empregada doméstica do Cosme Velho no Rio dos anos 70, vez por outra em rodas de conversas com as amigas do bairro profetizava ao ver grupos de moças alegres saírem de casa ao encontro dos primeiros namorados:

“Aquela ali, esta noite, conhecerá a verdade”.

Então, no dia seguinte, ela acionava sua extensa rede de informantes para saber se a profecia havia se consumado. Quando sim, aduzia a respeito da moça alvo do seu comentário:

“Conheceu a verdade e agora anda iluminada”.

Mal comparando, como Alckmin, quatro vezes governador de São Paulo, e uma vez candidato a presidente contra… Deixa pra lá. Orgulhava-se da carteirinha de filiado número 7 do partido que ajudou a fundar, o PSDB. Descobriu que seu coração é socialista.

Observe, dona Lu, como seu marido pareceu brilhar no discurso que fez ao lado de Lula para sindicalistas reunidos em São Paulo. Convenhamos, Alckmin era outro homem, mais enérgico, mais assertivo (essa palavra está na moda), mais desembaraçado.

Dispensou aditivo de qualquer marca para afirmar sobre seu novo companheiro de jornada política:

“A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país, Lula! Viva Lula! Viva os trabalhadores do Brasil!”.

A essa altura, restará um petista sem banho tomado, sem barba, uma vez que os barbudinhos trocaram de lado, disposto a insistir com a ideia de que Lula errou ao convidar Alckmin para ser seu vice? Se restar, apresentem-lhe estes trechos da fala do vice:

“Todas as vezes que o Brasil esteve em risco, o povo se uniu. Quando a ditadura matou Vladimir Herzog, os líderes religiosos se uniram para condenar a ditadura. Quando tentaram tirar os direitos dos trabalhadores, o mundo sindical se reorganizou e ampliou sua presença nas indústrias. Quando precisava tirar a ditadura, o Brasil se uniu: Lula, Brizola, Ulysses.”

“O Brasil está unido nesse momento, onde temos um governo que odeia a democracia, que admira a tortura, que faz o povo sofrer. É em momento de desemprego, de estômago vazio, de inflação, de 660 mil mortos, que o Brasil se agiganta na reunião histórica das mais importantes centrais sindicais. Venho somar o meu esforço, pequeno, humilde, mas de coração em benefício do Brasil.”

Pelos eriçados? Não é para menos. As palavras de Alckmin deixaram Lula e o PT de queixo caído. A retribuição veio a galope: Lula disse que Alckmin poderá comandar a mesa de negociação entre empresários e sindicalistas para rever a reforma trabalhista.

Naturalmente, se ele e Alckmin se elegerem; se derrotado, Bolsonaro não tentar melar o jogo; e se conformados em voltar aos quartéis, os militares concluírem que o melhor será desfrutar da vida alegre e iluminada que o Viagra ainda pode lhes proporcionar.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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