29 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Este blog tem o dever de apresentar o “segundo irmão” de Bolsonaro

Um personagem à procura de um autor

Ailton e Bolsonaro

Ensina a sabedoria popular que quem se mistura com porcos farelo come. O difícil, aqui, é distinguir entre os porcos e os que com eles se misturaram. Não é uma fábula, é uma história real.

Sobre Jair Bolsonaro sabe-se muito, mas não se sabe tudo. A cada dia, ele surpreende os que imaginam conhecê-lo bem. Sobre Ailton Barros, sabe-se pouco, quase nada.

Barros é um personagem à procura de um autor. Despontou para o estrelato ao se descobrir suas relações com Bolsonaro e com o caso da falsificação do atestado de vacina do ex-presidente.

A CNN Brasil revelou a existência de três áudios trocados por Barros com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro. Os dois, Cid e Barros, estão presos.

De Barros para Cid em 15 de dezembro de 2022, uma quinta-feira:

“É o seguinte, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes para que ele faça o que tem que fazer. Até amanhã à tarde, ele aderindo… bem, ele faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro para levantar a moral da tropa. Que você viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil”.

O general Marco Antônio Freire Gomes comandou o Exército entre março e dezembro de 2022. No dia 12, bolsonaristas queimaram ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília.

De Barros para Cid:

“Pô, não é difícil. O outro lado tem a caneta, nós temos a caneta e a força. Braço forte, mão amiga. Qual é o problema, entendeu? Quem está jogando fora das quatro linhas? Somos nós? Não somos nós”.

De Barros para Cid:

“Nos decretos e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele. Na segunda-feira, assinar os decretos de Garantia da Lei e da Ordem e botar as Forças Armadas para agir, senão nunca mais vamos limpar o nome do Exército”.

Ex-major do Exército, em 1997 Barros foi preso por 8 dias após tentar abusar sexualmente de uma mulher no acampamento da brigada paraquedista em Natal, no Rio Grande do Norte.

Quando ainda era capitão, foi acusado, entre 1999 e 2002, de atropelar de propósito um soldado no Rio. Em 2002, tentou lançar-se candidato a deputado estadual pelo PT, no Rio.

Em 2008, o Superior Tribunal Militar tirou-lhe a patente por má conduta e “envergonhar” a farda que vestia. No ano passado, foi candidato a deputado estadual pelo PL, de Bolsonaro, e perdeu.

Em 30 de outubro, dia da eleição em segundo turno, Barros acompanhou Bolsonaro quando ele foi votar na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Zona Norte, no Rio.

Há um vídeo que mostra Barros e Bolsonaro se abraçando e dando risadas na Base Aérea do Rio, naquele dia. Há fotos de Barros no Palácio do Planalto, em Brasília, ao lado do então presidente.

Bolsonaro já chamou Barros de “segundo irmão” e de “grande colega”. Como Barros, Bolsonaro foi também paraquedista. Como Barros, Bolsonaro foi afastado do Exército por “conduta antiética”.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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