6 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Contra a violência, o governo do Rio vai construir o muro da vergonha

Melhor esconder o que não se quer ver.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro matou mais um inocente, o adolescente Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, na Cidade de Deus, Zona Oeste. Que ironia: Cidade de Deus e também do Diabo que veste farda sem câmera para que ela não grave seus crimes.

Matar inocentes, suspeitos e criminosos é um ato corriqueiro no Rio, mas não só ali. Está normalizado. A população branca de classe média ou alta aceita até chacinas. Os muito ricos aplaudem em silêncio, afinal eles vivem mais tempo lá fora do que aqui.

Em visita ao Rio, Lula disse, durante a cerimônia de anúncio de recursos para Anel Viário em Campo Grande, bairro também na Zona Oeste, que o PM que matou Thiago com cinco tiros agiu de forma irresponsável:

“Um cidadão que atira num menino caído é irresponsável e não está preparado, do ponto de vista psicológico, para ser policial. Precisamos criar condições, governador. E o presidente da República quer ter essa responsabilidade junto com você [governador]. A polícia precisa saber diferenciar quem é bandido e quem é um pobre que anda na rua.”

De acordo com parentes, ao levar o primeiro tiro, Thiago caiu. Os demais disparos foram feitos após o garoto já estar no chão. Moradores da Cidade de Deus afirmam que os policiais tentaram forjar um confronto atirando contra uma região de mata.

Cláudio Castro (PL), governador do Rio, ouviu calado a repreensão de Lula. Balançou a cabeça, concordando. Ele não está preocupado com a matança nos morros, mas com a violência na Linha Vermelha, porta de chegada e de saída da cidade cartão-postal.

A Linha Vermelha cruza regiões controladas pelo crime, como Vigário Geral e Maré. Castro vai erguer um muro nas laterais da via. Ao invés de educar a polícia, prender bandidos e libertar as comunidades, o melhor será esconder o que não se quer ver.

“Será um muro do fracasso, da falência da política de segurança”, disse ao Globo a socióloga Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. “O governador prefere erguer um muro a investir em inteligência e prevenção.”

Castro foi vice de Wilson Witzel, o governador do “tiro na cabecinha”, cassado por corrupção. Castro assumiu o cargo e se reelegeu no ano passado. Promete construir um muro com 3 metros de altura e com vidro blindado, resistente a tiros de fuzil.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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