Presidente sem inteligência emocional favorece o adversário que mais lhe subtrai votos.
Desde o início do governo, o presidente Jair Bolsonaro fazia tudo errado e dava certo para ele. A partir de certo momento, tudo o que fazia de errado começou a dar errado. Estão aí as pesquisas de opinião e de intenção de voto que não deixam mentir.
O ex-juiz Sergio Moro filiou-se ao Podemos e admitiu disputar a vaga de Bolsonaro. Em pouco mais de 10 dias, apareceu nas pesquisas à frente de Ciro Gomes (PDT), até então o terceiro colocado, mas ainda há muita distância de Bolsonaro.
O que faz o presidente? Contraria as mais elementares regras do marketing político, despreza o conselho dos que ainda insistem em aconselhá-lo, e parte para cima de Moro armado de pau, pedra e desaforo. Ora, só quem tem a ganhar com isso é Moro.
Ganha espaço na mídia, nas redes sociais, nas conversas de botecos, nas trocas de ideias no interior das famílias, e reforça sua posição de aspirante a candidato nem, nem – nem Bolsonaro, nem Lula. É tudo o que Moro quer e precisa. Para Bolsonaro, é ruim.
É prova de que nenhum outro candidato o ameaça mais do que Moro. É também o que mostram as pesquisas. Eleitor de Lula não vota em Moro nem para impedir a reeleição de Bolsonaro. Eleitor de Bolsonaro descrente dele vota em Moro, sim.
Bolsonaro não sabe disso? Está exausto de saber, mas… Falta-lhe inteligência emocional. Calcula que batendo em Moro vai segurar o apoio dos direitistas mais radicais e credenciar-se ao segundo turno. Deixa Lula em paz porque prefere enfrentá-lo.
Pode acontecer o contrário. Não é certo que Moro continuará amealhando pontos e que acabará por ultrapassar Bolsonaro. Mas com a ajuda do próprio, quem sabe? Chamar Moro de mentiroso é reavivar a lembrança das mentiras que Bolsonaro já pregou.
E, nesse quesito, Bolsonaro é imbatível. Não é sem razão que mais de 60% dos brasileiros dizem simplesmente não acreditar no que ele fala.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.