O presidente Jair Bolsonaro recebe cumprimentos e tira fotos na entrada do Palácio da Alvorada.
(Antonio Cruz/Agência Brasil)
A poucos dias do segundo turno, o favorito Jair Bolsonaro anunciou que pretendia fazer uma “excelente reforma política”, acabando com o instituto da reeleição – “que começa comigo caso seja eleito” – e reduzindo a representação no Congresso Nacional em 15% ou 20%. Vitorioso, não mexeu uma palha para cumprir a promessa feita. Traiu os que nele acreditaram e praticamente desde a posse age para promover sua reeleição e a família. Não a brasileira, que diz defender, mas a dele.
Instituída em 1997 para beneficiar o então presidente Fernando Henrique Cardoso, a reeleição para cargos majoritários, existente na maioria das democracias modernas, nunca foi ponto pacífico na política brasileira. O próprio PSDB, que apresentou a proposta, teria se arrependido dela e formulado teses contrárias. O mesmo se deu com o PT. Mas nenhuma dessas duas forças que polarizaram as disputas eleitorais por mais de duas décadas abriu mão da reeleição porque dependiam dela para os seus projetos de poder.
O ministro das Comunicações de FHC, Sergio Motta, um dos mentores da ideia, previa, em 1995, a hegemonia tucana por 20 anos. “O PSDB não é um partido de tertúlias acadêmicas, e sim um partido com projeto de poder”. Com popularidade no chão, FHC concluiu o oitavo ano aos tropeços.
O PT de Lula, José Dirceu, Palocci e companhia também se imaginava longevo. Montou com base no Mensalão o que o ministro do STF Celso de Mello definiu como “projeto criminoso de poder”, que se sofisticou ao longo dos anos conforme se viu nas investigações da Lava-Jato. Terminou 13 anos e meio depois com uma presidente afastada do cargo, Lula e boa parte dos seus na cadeia.
O partido que se dizia de esquerda acabou como o maior detrator do ideário humanista e da própria esquerda. E foi decisivo para a vitória de Bolsonaro.
Mas, ao contrário da pregação bolsonarista de demonização da esquerda, o PT que ocupou o Planalto nada tinha a ver com conceitos e modos socialistas ou comunistas. Adorava e continua adorando o capital, se deliciava com restaurantes chiques, vinhos milionários, roupas de grife e hotéis de luxo. Um partido dito de esquerda que em vez de revolucionar os meios de produção financiou a elite empresarial e encheu as burras de dinheiro sujo.
Bolsonaro também tem um projeto de poder, que, assim como fez o PT com a narrativa da esquerda, usa o instrumental da direita para se colocar em pé.
Como o que conta na verdade é o futuro político dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos, os três com mandatos legislativos obtidos no rastro do pai, e do jovem Jair Renan, que acaba de completar 21 anos, as chances de o presidente e os seus fazerem mal ao ideário conservador são enormes.
Um exemplo disso é a virulência do discurso dos filhos, que começa a criar incomodo até entre seguidores fieis. Já o pai aferrou-se à tática de falar bobagens, agredir pessoas e poderes, dentro e fora do país, destratar e xingar jornalistas, formatando, de caso pensado, o personagem do sincerão, que não tem papas na língua. Um script que pode até ter sido bem desenhado, mas sem o condão para impulsionar a popularidade do presidente, que só fez cair da posse para cá.
Associam-se a esses maus modos a permanente desconfiança que Bolsonaro tem de todos os que o cercam, a mania de perseguição, as brigas que arruma com aliados e, mais grave, a irresponsável insistência em transformar o governo em uma república familiar.
Seu projeto de poder é para a prole, essa sim, acima de tudo.
Fonte: Blog do Noblat – Veja Abril
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.