27 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Queda de braço e crise energética

Foto: Gooelge Imagens – Money Times

Impasse. Essa é a toada da situação geopolítica da Europa. Ninguém quer ceder, enquanto todos perdem. Nesse “forfé” de sotaque eslavo, cada um grita em seus dialetos.

O presidente ucraniano, depois de seis meses de guerra contra a Rússia já não goza daquela aura luminescente. Posou com a mulher para foto de capa na Vogue e, sem a ovação dos progressistas europeus, ficou com o rabo entre as pernas. A cortina caiu e ele foi pego no meio da encenação. Afinal, é apenas um ator interpretando o papel de presidente de um país que clamava por um comando menos inclinado à direita. Progressista ele não é e para ser conservador falta muita cultura.

E o pior é que, à essa altura dessa guerra de narrativas, nenhum esforço foi feito para poupar perdas de vidas e destruição. E para Volodymir Zelensky já não dá mais. Ele está preso à própria arapuca que armou com os dominadores globais. Se meteu com Vladimir Putin, que também não é flor que se cheire, e se deu mal. Ele sempre foi um peão no tabuleiro. Caiu na prosa quem quis.

A verdade que não quer calar é a de que a União Europeia e membros da Otan jamais tiveram a intenção de acolher a Ucrânia em suas bases. Foi apenas um ensaio para testar as forças russas e ver quem mostra a cara no jogo.

Mesmo com a guerra em movimento aqui e ali, a Rússia vai mudando de tática e conquistando terreno no país irmão. Por mais tempo que perdurem as batalhas, o Kremlin já ganhou de lavada. A região disputada, que era apenas o Donbass e estava mergulhada em guerra civil desde 2014, hoje integra mais cidades que foram conquistadas pela Rússia.

Com mais de uma centena de embargos econômicos, a Rússia pôs a Europa de joelhos . Os parlamentos de todos os países envolvidos agiram como principiantes. Erro fatal em um continente que já viveu duas grandes guerras e muitas batalhas de fronteiras.

Tanto fizeram nas quedas de braços com Putin que conseguiram fazer com que ele fechasse de vez o fornecimento de gás do gasoduto Nord Stream I, a principal fonte de alimentação de energia de indústrias e residências da Europa.

A dependência de gás e petróleo russos em 2019 atingiu 45,5% e, em 2020, 43,4%. Outra parte significativa, acima dos 20%, é suprida pela Noruega e o restante vem de países árabes, que não são muito afeitos à negociações e barganhas.

Irritaram o Vladimir. Agora resta só o gás vindo pelo gasoduto que passa pela Turquia e a importação de outros países. Já de petróleo, a dependência é de quase 29%.

Seria muito mais vantajoso para a Europa descer do salto e achatar a fleuma para chegar a um consenso com a Rússia. Mas ninguém quer entregar sua rainha. E mais, como a agenda de “descarbonização” no continente está avançada, principalmente na Alemanha, será um retrocesso voltar a consumir carvão e ativar as antigas usinas nucleares. Essa volta atrás já está sendo chamada de “cavalo de pau”. aquela manobra radical que muitos terão que fazer.

A Alemanha havia desativado praticamente todas as suas usinas, restando apenas duas. Mas é insuficiente para suprir a demanda do país. A França foi mais comedida nesse quesito: 70% da energia do país ainda vem das usinas nucleares.

Mas tem outro porém. Estão em falta as pastilhas de urânio que também são fornecidas pela Rússia. A República Tcheca, cujas usinas estão obsoletas e não foram modernizadas desde os tempos da União Soviética, dependem do produto . Tem ainda outra: é preciso de energia para resfriar os reatores, sem o quê todos ficarão à mercê de riscos de acidentes nucleares.

O premiê germânico Olaf Scholz, que recebeu um abacaxi bem espinhoso da antecessora Angela Merkel, a “amiguinha” de Putin, nesta semana recebeu uma notícia bem ruim. A maior indústria de papel higiênico do país, a Hakle, fundada em 1928, anunciou sua insolvência. A crise energética, o lock down e os custos logísticos asfixiaram a empresa e também uma outra de fertilizantes.

Mesmo com o pacote anunciado de €65 bilhões ao país, a população alemã está correndo pelo mercado para estocar itens de sobrevivência. Uma medida de emergência ante às incertezas.

A transição tão rápida para a energia limpa já começa a ser questionada no país. Medidas de contenção de energia serão tomadas e poderão desacelerar a produção muitas indústrias.

A nova chanceler do Reino Unido, Liz Truss, mal se despede de sua rainha e terá que lidar com iminente recessão e conflitos internos, devido aos que não concordam com a saída do bloco europeu. Estima-se que a inflação poderá chegar perto de 20%.

O dono do gás também não está tranquilo. Ele reage à temperatura da batalha diante das propostas que recebe do lado europeu, manietado pelos Estados Unidos.

A União Europeia propôs um teto de preços para o gás russo. Putin se ofendeu e fechou o gasoduto que funcionava com capacidade reduzida de vez, com a contrapartida de que só voltará a suprir os países com a retirada das sanções.

Mesmo com todas as restrições, as ações estatal de gás russa, Gazprom, aumentaram 150% nas bolsas nos últimos meses.

O gasoduto Nord Stream II, de construção russo-alemã, foi paralisado sem previsão de inauguração. Putin não vai ceder, nem a Otan. E a comunidade europeia teme pelo próximo inverno.

Com os mercados globalizados, logo os efeitos da crise energética europeia chegará ao resto do mundo. Ninguém sairá impune da pataquada armada por Zelensky, Biden & Outros. Nem a China. O Brasil e o mundo precisarão mais do que nunca de pulso firme para enfrentar o que virá – graças ao belicismo estúpido de alguns.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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