Na maior parte do Brasil ninguém sabe quem é a rainha da Inglaterra, Harry ou Meghan, que passa a integrar a linhagem da monarquia britânica a partir do casamento deste final de semana.
Isso interessa? É importante, a ponto de grandes emissoras brasileiras de TV realizarem transmissões exclusivas de Londres, desde as primeiras horas da manhã deste sábado?
Jornalismo sério é o que dá relevância ou traço a uma notícia e este está em falta por aqui. O tal casamento não interessa e nem influencia em nada a vida do brasileiro. Dinheiro gasto com mobilização de equipes, repórteres é um tremendo desrespeito àquele que vive ilhado no miolo da Amazônia, na secura infinita do sertão e no rincão dos esquecidos. Mas vamos ao resumão, que pode cair no Enem.
As histórias de monarquias sempre acenderam o imaginário das pessoas, principalmente onde elas existem ou existiram. Só aqui no Brasil é diferente ou indiferente. Falando da própria, a portuguesa, que chegou por essas paragens na Idade Média, cheira a mofo.
O que mais relembra os personagens lusitanos são nomes de praças, de escolas, estradas e os poucos fatos que se destacaram no calendário como feriados. Ademais, são capítulos enfadonhos contados a partir do terceiro ano primário por professores, com métodos pouco atrativos e meramente cronológicos. Ninguém foi instigado a pensar além; muito menos porque só no Brasil se fala o português enquanto no resto do continente o espanhol domina – coisa do Tratado de Tordesilhas. A piada recorrente é a de português, a do Zezinho perde longe.
Até os “heróis e heroínas” são fajutos. A princesa Isabel, a da abolição da escravidão, filha de D. Pedro II, sequer se interessava pela política provincial ou qualquer fato da Coroa no Brasil. Consta que ela detestava o calor e vivia com lenços pelos corredores. Para ela era um fardo protocolar viver no Brasil, longe da corte europeia, do luxo, das festas e da vida cultural. Portanto, colocar um ponto final no escravagismo não foi convicção, devoção a uma causa humanitária, mas meramente circunstancial. Ela teve que assinar pela pressão que havia a partir de outros países. Monarquia no Brasil é mais ou menos isso: pra inglês ver.
Quem vai além fica sabendo dos péssimos hábitos de canastrão de Pedro I, que se engraçava com cortesãs e traia Leopoldina, porque era feia e sem graça, e se apaixonou por Domitila, a fogosa marquesa de Santos. Ele o protótipo do macho alfa, que não dava trégua a nenhuma saia, e ela uma libertária no seu tempo. Mas isso só sabe quem se enveredou pela intriga palaciana. Virou tema de folhetim.
Lá na Inglaterra também há capítulos apimentados e vergonhosos, mas isso é problema dos ingleses. A notícia aqui pode ser bem sucinta: Harry, que é Henry Charles Albert David (sic), príncipe neto de Elizabeth II, sexto na linha de sucessão da monarquia do Reino Unido, está se casando com a plebeia Meghan, que é Rachel Meghan Markle, atriz de TV americana. A grande sensação é que a moça tem descendência negra e é “ativista feminista” desde criancinha, quando protestou contra um anúncio de detergente, que tinha como alvo apenas o público feminino. Fez muito bem! E ponto.
Então vem a turma da futrica que se torna especialista em alta costura de um dia para o outro, para falar dos brocados e cristais do vestido da noiva; dos designers de estilos que esquentam apostas contra e a favor da barba do príncipe; dos chefs gourmets que vão detalhar o cardápio e o recheio do voul-au-vents; e os críticos comportamentais que devem falar à exaustão do cancelamento do perfil no da nova monarca no Instagram. Tudo firula que esquenta a pauta de uma enormidade de programas e mídias. Depois vem a ressaca. Tudo muito chato e repetitivo. Como também são os fatos do nosso Brasil.
Aqui tem dengue, zika, chikungunya, febre amarela, parlamento e instituições corruptas, hospitais sucateados, fome, esgoto a céu aberto e um monte de eteceteras. Todos com brasões de estados e prefeituras e requinte criminoso. Aqui príncipes e princesas roubam juntos por amor aos reais. Real por aqui é a desgraça pública, monarquia é a dos traficantes. Sem nenhuma fantasia.
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