No último dia 1 de fevereiro o Brasil acordou sem o ânimo costumeiro que tinha ao fim dos sete longos anos da Operação Lava-jato. Acabou com gosto de quero-mais. Agora deu para entender o foguetório de comemoração aqui e ali no primeiro dia deste mês.
A alegria de malfeitores habituados a resolver seus problemas e obter vantagens às nossas expensas foi revigorada. Mas não se enganem, é só uma mudança de fase. A queda de Sergio Moro da vida pública, em meados do ano passado, já tinha antecipado esse estado de ânimo. Aqueles que são movidos por um ideal patriótico ficaram órfãos com a retirada de cena do “herói”. Mas, na queda dos mitos, o saldo é sempre bom. A responsabilidade passa a ser individual.
Contudo, vale o registro, o inacreditável silêncio do dia primeiro de fevereiro. É como se os apelos por justiça fossem todos sufocados. Afinal, o país nunca antes havia visto presidente e vice, ministros, governadores, deputados, senadores, empresários, presidentes de empresas, gente de todos os escalões da República serem trancafiados e convocados a responder por crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta de câmbio, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, obstrução de justiça, tráfico de influência, peculato, estelionato e outros mais.
Estranhamente, o público que ocupou as ruas no Brasil inteiro desde 2013 não se pronunciou. Não demonstrou sequer mínima reação no apagar das luzes. Foi chocante o eco do silêncio. Talvez o acontecimento tenha sido suplantado pela dor maior que a pandemia tem causado.
Respondendo sempre pontualmente e à altura a tantos ataques e tentativas de difamação, a centuria de procuradores e juízes, de todo o país também se calou e deve migrar para dar suporte à outras operações de combate ao crime. Embora não digam, alguns foram ameaçados por aqueles que não têm escrúpulos. São servidores públicos que foram eivados de coragem durante os sete anos, para por atrás das grades tantos personagens da política, da indústria, de grandes empreiteiras, incorporadoras, publicitários, funcionários públicos de vários escalões, doleiros e mais pessoas que faziam parte do plano sórdido e cruel de achacar o país e entregá-lo à escroques nacionais e internacionais.
Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.