Vingança é um prato que se come frio. A frase tem a autoria do escritor inglês James Payn, do século XIX, e faz alusão ao tempo de espera para revidar algum mal causado por alguém. Porém, sabe-se que, enquanto a temperatura da comida baixa, ruminar ódio pode desencadear doenças no corpo e na alma.
No caso de Lula, se o que estamos vendo não é artimanha dos articuladores do partido governista para gerar um factoide e debelar a crise gerada por suas declarações contra Sérgio Moro, o fato não invalida o que todos sabem: o presidente não tem mais condições de se manter no cargo, por muitas razões.
Todo dia é um tiro no pé e uma evidente comprovação de que sua equipe de marketing político também anda batendo cabeças.
Administrar crise não é o mesmo que contratar uma tropa de elite, ameaçar e por para correr. É uma estratégia refinada, precisa e desapaixonada que não se aprende em táticas de guerrilha em Cuba.
O destempero do presidente, digamos assim, pode ser senilidade — o que abrandaria, em tese, suas declarações — ou mesmo a calcificação de seus piores defeitos éticos e morais.
Basta revisitar suas entrevistas ao longo dos anos para constatar que o viés persecutório dele contra opositores é um traço de caráter. E só tem piorado.
Lula nunca digeriu bem as críticas contra si. Isso é fato. Mas no passado, o seu discurso apesar de agressivo, não era carregado da bile amarga e vingativa de hoje. Sua liderança era genuína, agora não mais.
No caso do ex-juiz, atual senador, sua narrativa ganhou um relevo mais perigoso.
Ele não só faz ameaças públicas como incita criminosos do primeiro escalão, supostos apoiadores que se identificam consigo, a se vingarem de representantes da lei e desafetos políticos. Uma rebelião institucional de fato contra os inimigos.
O personalismo doentio pode gerar também um descompasso moral. Há uma enorme diferença entre a divergência sadia na política e a desforra.
O mais triste é que ele arrasta militantes e apoiares a esse discurso extremista, a ponto de as pessoas não fazerem mais distinção entre escolha política e vendeta.
Pior que a senilidade ou qualquer outra doença é rebaixar-se ao rodapé da história como um tirano que sequestra direitos e liberdades, ao estilo dos velhacos da política, como tem feito.
O que pode ser pior para ele, além de um prognóstico ruim? Perceber que a vaidade não ajuda a escrever nenhum capítulo heroico na história, mas pode levá-lo a um fracasso moral.
Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.