Você ainda se lembra da bomba de hidrogênio que foi jogada uns meses atrás na política brasileira e que, naturalmente, iria “mudar tudo” nesse país?
Foram as “gravações das conversas” do ministro Sergio Moro, obtidas através do crime de furto de comunicação telefônica, e publicadas na mídia com um veredito quase unânime dos “analistas”: Moro teria cometido ilegalidades de natureza “gravíssima” nos processos da Lava Jato e, portanto, estava liquidado, morto e enterrado como homem público.
As decisões da Lava Jato seriam anuladas. As centenas de ladrões do erário que foram condenados por corrupção na justiça seriam prontamente reabilitados. O próprio Moro, segundo os “juristas” chamados a falar sobre o caso, poderia, imaginem só, ser processado, condenado e preso.
E o que aconteceu, na vida real? Sérgio Moro não só continua ministro e uma das figuras mais populares do Brasil, como acaba de ser eleito como uma das “50 personalidades da década” pelo Financial Times britânico, órgão de comunicação tido pelo mundo afora como portador do dom da infalibilidade – sobretudo quanto senta a pua no governo Bolsonaro e suas adjacências, ocasiões em que suas bulas de condenação são avidamente reproduzidas pela mídia mundial.
“Sergio Moro liderou uma investigação anticorrupção que abalou as estruturas políticas da América Latina”, diz o Financial Times. Não há nenhum outro brasileiro entre essas 50 personalidades mais importantes da década – nada mal para quem, uns poucos meses atrás, era amaldiçoado nas mais altas esferas d saber brasileiro como um “juiz de linchamentos”.
O resto é o resto. Nenhuma das decisões de Moro, depois de examinadas com lupa nas instâncias superiores, foi modificada por conta das “gravações”. Nenhuma ilegalidade foi encontrada em nada do que ele fez durante seus quatro anos no comando da Lava Jato. Não se achou nada de errado, nem nas conversas furtadas, nem em lugar nenhum.
A única verdade que ficou provada, além de qualquer dúvida, foi o crime praticado contra ele por hackers e aproveitado por um jornalista que teve seus 15 minutos de fama – e desde então sumiu do mapa Os criminosos que furtaram suas conversas estão sendo processados na Justiça. Deu tudo errado – menos para Sergio Moro.
É verdade que o presidente Jair Bolsonaro se recusou a vetar a aberração do “juiz de garantias”, invenção da Câmara para proteger criminosos de todos os tipos – segundo Marcelo Freixo, parceiro numero 1 da bandidagem no Brasil, é “um aprimoramento” da justiça para evitar “abusos” contra acusados presos.
Moro pediu, com todos os argumentos, que Bolsonaro vetasse mais essa agressão às vítimas dos criminosos. Bolsonaro ficou a favor de Freixo e contra o seu próprio ministro. Mas isso só engrandece Sergio Moro e justifica a distinção que recebeu do Financial Times. Quem sai do episódio como frouxo é o presidente da República.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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