8 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

“Vida, pisa devagar meu coração”

A primeira vez que ouvi Belchior foi em 1976. Como tenho tanta certeza? Essas coisas não se esquecem, amigos e vizinhos. O impacto de Belchior na minha vida foi imenso.

Eu já tinha ouvido, claro, “Como Nossos Pais”, na voz de Elis Regina, sem saber que era dele. Logo em seguida ele estoura nacionalmente com “Apenas um rapaz latino-americano”.

Ao longo de 6 ou 7 anos de produção intensa, Belchior lança uma série de discos que, sem favor algum, fariam dele um ícone da música, se brasileiro não fosse. No mínimo, nível de Bob Dylan.

Aliás, apesar de dizer, em uma de suas canções, que “o tango argentino me vai bem melhor que o blues”, o fato é que Belchior vestia seus poemas com uma fina roupagem instrumental que ia do country/ folk dylanesco ao pop radiofônico beatle.

Mas o seu grande, gigantesco, diferencial eram as letras: para um garoto triste, esquisito, disfuncional, desajustado e solitário como eu era, elas bateram em cheio em minha alma e na ferida aberta do meu coração selvagem.

Não tenho a menor dúvida de que qualquer canção dita “menor” do repertório de Belchior é amplamente superior a 99% de tudo que se faz hoje no Brasil.

Os grandes clássicos? “Alucinação”, “Hora do Almoço”, “Comentário a respeito de John”, “Coração Selvagem”, “Divina Comédia Humana” e tantos outros? Seria covardia.

Ter ouvido Belchior, cantado e tocado suas canções, lido seus poemas, que desnudaram a alma do ser humano de tantas formas e ângulos diferentes é uma das experiências que me faz crer que, definitivamente, involuímos.

E não só na música.

Hoje, o adulto triste, esquisito, disfuncional, desajustado e solitário que eu sou continua tendo uma ferida aberta no meu coração selvagem.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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