12 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Pequeno glossário de “paulistês”

Pode até parecer que estou exagerando, mas, ao vir morar no interior de São Paulo, no já cada vez mais distante ano de 2015, me deparei com algumas especificidades – amo essa palavra, assim como “inverossímil” e outras tantas – que me deixavam confuso. Exemplo clássico:

– Oi! Quero uma água com gás.

Olá! São R$3,00!

– Obrigado.

– IMAGINA!

Pronto. Eu ficava, de início, meio como o meme da Nazareth, olhando e matutando, sem entender. “Como assim? É para ‘imaginar’ alguma coisa? Será que a moça do caixa imagina que estou imaginando algo? Será uma espécie de piada com cariocas? O que eu RESPONDO, droga?!”

Eu dava um sorriso desenxabido, fazia um muxôxo – mais duas palavras que amo! É, eu sei que “muxôxo” não é mais acentuado, mas eu gosto assim – pegava minha água e dava o fora.

E assim foi até eu me adaptar às peculiaridades do “paulistês”. Por isso segue esse já não tão pequeno glossário do idioma falado no Estado dos bandeirantes.

– café “carioca”: uma beberagem aguada, rala e sem sabor vendida por aqui. Eu considero uma ofensa pessoal esse café ser alcunhado por “carioca”, visto sermos os cariocas os maiores conoisseurs e apreciadores de café no Brasil, e bebemo-lo forte, encorpado, oloroso e, preferencialmente, puro.

– Feijão “carioca”: na mesma linha do item anterior, paulistas consomem todos os dias uma variante menos nobre e pouco saborosa de leguminosa que chamam de “carioca”. Sendo que nós consumimos apenas o único feijão digno desse nome, o Thor dos feijões, o PRETO, óbvio.

– “lanche”: é outro mistério insolúvel da humanidade os paulistas chamarem de “lanche” o que é apenas um sanduíche. “Lanche”, não me canso de esclarecer, é apenas o nome de uma refeição, tal como “almoço”, ou “jantar”.

– “mistura”: o porquê de aqui em São Paulo o prosaico acompanhamento do feijão com arroz receber o nome de “mistura” é um enigma tão enigmático quanto saber quem ergueu os moais da Ilha da Páscoa. É sobejamente sabido que “mistura” refere-se, tão somente, ao alimento destinado a periquitos, canários e outras aves caseiras.

(Continuará)

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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