Ele acordou cedo naquela manhã, como em todas as manhãs de 11 de Setembro. Na verdade, “acordou” era apenas um modo de dizer. Tinha rolado na cama desde as 4 da madrugada. Não importava. Ele tinha um encontro. Um compromisso.
Parou, a caneca de café aquecendo as mãos. Olhou pela janela. Também não importava quantos anos haviam passado. Sempre sentiria que estava faltando ALGO, que ele se acostumara a ver da janela e até no cinema. “King Kong”, a refilmagem dos anos 70. O primeiro “Homem Aranha”. Estavam lá. “Sempre estariam”, pensou, “ao menos em mim”.
Terminou de vestir a farda. Os olhos umedeceram. Mais de 20 anos? Ele lembrava como se tivesse sido ontem. O gosto de fuligem. O CHEIRO da multidão. Os olhares incrédulos diante da infâmia. Nunca esquecer? Seria uma ofensa à si mesmo se sequer OUSASSE tentar esquecer.
Caminhou até o monumento. Curvou a cabeça e fez uma prece silenciosa. Viu cada um dos que tinham partido, os amigos, os companheiros de profissão e até os desconhecidos. Nunca esquecer? Como, se para ele, naquela manhã, seria sempre como todas as manhãs daquele dia?
Um dia eles se veriam novamente, pensou, mas não nessa manhã. Enxugou os olhos com as costas da mão – e seguiu em frente. Como aprendeu a fazer desde todas as manhãs desde aquele dia. Seguir em frente. Não esquecer.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.