– você vem sempre aqui? – ele arriscou.
– sim, eu gosto da vista. Já gostava antes de… você sabe.
Ele sabia. Estavam no alto da torre Eiffel. A cidade iluminada ao redor.
– dura é a subida, não? – ele tenta fazer graça, desenxabido.
– na verdade, não… – ela olha para os pés, translúcidos. E esfumados, como as nuvens. Como um chiaroscuro renascentista.
Ele acompanha seu olhar, para os pés calçados em saltos altos.
– quantos sapatos você tem? Ou tinha?
– um para cada passo – ela respondeu.
– a gente vai se ver de novo? – ele ousou.
– quem sabe, dr.? Um passo de cada vez.
– e um sapato para cada passo – ele sorriu, os bigodes felizes lembrando Hercule Poirot.
Ela sorriu de volta, à guisa de despedida, e se lançou no espaço. Em algum lugar tocou Chet Baker. Ela abriu os braços e voou.
Ele contemplou, maravilhado, como a trajetória do corpo dela executava uma perfeita espiral de Fibonacci, no ar. Ficou olhando sua silhueta recortada contra a lua da cidade-luz.
Ele mergulhou também.
P.S.: dizem que Albert Einstein e Marilyn Monroe teriam se conhecido – e não apenas. Ninguém jamais vai saber.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.