8 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Fiquei dois anos reprovado no Segundo Grau, em 1982 e 1983

Eu poderia culpar mil fatores para meu fracasso, como os torcedores dos times de futebol fazem, mas o maior responsável fui eu mesmo: nessa época eu só pensava em ir à escola para intermináveis partidas de vôlei, intermináveis rodas de violão e – como uma coisa leva à outra – igualmente intermináveis beijos e amassos nas salas de aula vazias com as normalistas do colégio. Eu não era belo, mas mesmo assim… Era jovem, e quase todo jovem é belo. Assim como é burro. Mas esse é outro papo.

Costumo dizer que aprendi a tocar violão sozinho – o que é uma baita injustiça, na medida em que tive muitas pequenas ajudas dos meus amigos. Mas a principal foi essa revistinha aí da imagem: Violão e Guitarra.

Chamar de “revistinha” é uma ofensa. A “Violão e Guitarra” existia desde os anos 70, talvez 60, e, em suas páginas, o aprendiz de violão encontrava os sucessos da época, em forma de cifras – uma forma de escrita musical mais simples.

Resumir dessa forma o conteúdo da revista é, também, uma ofensa. Na medida em que o trabalho de cifragem apresentado era simplesmente primoroso. Não sei quem era, ou eram, os responsáveis mas, fosse quem fosse, reproduzia, quase sempre, fielmente os acordes das músicas apresentadas.

Isso quer dizer fazer a cifragem de canções de um período da música como um todo, e da brasileira em particular, de extrema complexidade.

Sem pensar muito, lembro aqui de “Sapato Velho”, gravada pelo Roupa Nova, quase todas de Chico Buarque e Tom Jobim, João Bosco, Milton Nascimento. Não é a mesma coisa que transcrever os acordes de, por exemplo, um funk proibidão ou um axé music. Não é, amigos e vizinhos.

Esses dias procurei, em um site de cifras musicais, uma canção que queria tocar no violão – e me surpreendi com a pobreza do trabalho, extremamente básico e simplificado, para não falar dos erros.

Me surpreendi e não me surpreendi, ao mesmo tempo.

Como tudo no Brasil, também essa arte degradou, se decompôs, vai esmaecendo aos poucos – como a saudade de um avô ou vultos de fantasmas entrevistos em uma estação de trem.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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