Sei lá. Talvez por ser carioca. Cariocas temos uma relação um pouco tóxica com chuvas: basta chegar dezembro e ficamos todos como naquela música do Gonzagão: “olha pro céu…” Se eu acreditasse em astrologia, diria que é por ser de Virgem, signo de terra, que gosta de ter seus pés bem firmes no chão, avesso a procelas e mares. Talvez por eu ser carioca E virginiano. Sei lá.
Inquietação. Minha tia perdeu tudo, ou quase, em uma enchente na Vila da Penha, isso ainda nos anos 60. Eu, por minha vez, passei por graus variados de perrengue, a cada estação das chuvas no Rio – leia-se, de dezembro a março: fiquei preso em um ônibus, em meio à uma “comunidade”, negociando com dois simpáticos integrantes da força de trabalho informal da região o quanto eles pediriam para empurrar o buzão para fora da enxurrada. Já entrei em um túnel alagado sob a estação férrea, à noite, em Bonsucesso, e levei uma moça em prantos, em meio à escuridão, para o outro lado. Já entrei em casa à uma da madrugada – tendo saído às 18h do trampo – com água na altura da cintura.
Perrengues variados, eu disse.
O fato é que, a cada início de verão, eu renovo meus votos de aversão à estação do calor e das tormentas.
Águas de Março? São lindas. Mas só na música do Tom.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.