9 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Essa imagem tem 50 anos

Minha turma, em 1973. É curioso como sou capaz de lembrar os nomes de quase todos, assim como lembro exatamente do dia em que fomos para o pátio tirar essa foto.

A linda professora Regina, de Matemática – a causa provável para eu nunca ter me dado bem com números, não por culpa dela, claro. Sandra, a menina mais bonita da turma – uma vez eleita rainha. Mas eu amava (amava como um menino de 8 anos poderia amar) mesmo era Claudia. O que não fazia diferença, porque nenhuma das duas me dava bola. E, caso dessem, continuaria não fazendo diferença: eu tinha 8 anos, e os tempos eram outros.

Alcides, o bagunceiro. Marcelo, de longos cachos dourados – sofria bullying, claro, com um desenho de Hanna & Barbera em voga na época. Francisco e Íris, os mais velhos, creio. A pequena Valéria. Roberto. Ney. Leonardo, um negro alto e inteligente. Josenir. Luís Carlos. Valéria. Fábio. Maria José. Luís Antônio. Os nomes vão se sucedendo em minha mente, como aquelas cascatas de cartas que se formavam nos antigos computadores ao completarmos um jogo de paciência.

Tenho histórias com quase cada um deles: histórias de menino, umas divertidas, outras nem tanto, algumas das quais me envergonho, mas… eu tinha apenas 8 anos.

Eu olho essa imagem e o menino me devolve o olhar. Ele parece me perguntar: “o que de mim você guardou? O que você foi capaz de proteger do mundo? O que fez você da confiança que lhe deixei? Do meu sorriso largo? O que você construiu, além de músculos?

E o mais importante, homem velho que me encara através dos tempos, para esse dia de maio de 1973:

O que você ainda é capaz de reconhecer em mim?

O quanto de você… ainda sou eu?”

Eu devolvo a foto de volta ao baú de recordações. O Tempo, aquele senhor com aparência de Leonard Cohen, me observa, parecendo dizer: “não se me provoca impunemente. Não bula comigo”.

Eu fecho os olhos e apenas sigo em frente. O guri está lá na foto. Mas eu fico feliz em ver o quão está em mim.

Ainda.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *