De Eric Clapton, para rolar no Spotify, pela sétima ou oitava vez. Estava triste de novo.
Repassou os métodos que poderia usar para pôr fim a tudo. Não queria deixar sujeira para ninguém, claro – era virginiano, embora não acreditasse em astrologia. Também queria pouca ou nenhuma dor.
Pensou o quão adequado seria apenas pegar a estrada até alguma colina esquecida no Utah.
Mas seu plano preferido ainda era replicar o método do juiz Wargrave, de “E Não Restou Nenhum”, de Agatha Christie – “mudaram o nome do livro, que droga.”, pensou, não pela primeira vez – buscar um criminoso impune, puni-lo, deixar-se capturar e aguardar a sentença, de preferência no Texas, onde a pena capital era muito aplicada.
Enquanto Clapton cantava: “Senhor, me dê forças para continuar…”, ele organizou, mais uma vez, os talheres e a xícara de café sobre a mesa, formando um padrão perfeitamente lógico e ordenado: pronto, o Universo estava salvo. Quer dizer: quase. Os ocupantes da mesa ao lado não tinham o seu conhecimento do quão importante é distribuir de forma adequada os sachês de açúcar, canecas, pratos e afins. Droga. Quase levantou para fazer, ele mesmo, a organização.
Estava ainda imerso em seus planos para acabar com tudo de vez quando a criatura que ocupava a mesa próxima à saída levantou-se, rasgou a garganta do atendente que bloqueava, sem querer, a porta, e fugiu.
Ele suspirou. O wendigo – porque era disso que se tratava – tinha notado sua presença, apesar de todo o seu cuidado. Ou talvez não tivesse sido tão cuidadoso quanto esperava. Era só o que faltava: triste, ansioso, com TOC – e descuidado.
O som da cafeteria começou a tocar “Forever Man”. Clapton, claro. Ele considerou um bom sinal. Tocou, com carinho, os 38 Special de cabo de madrepérola acondicionados nos coldres e mergulhou na noite.
Acabar com tudo teria que esperar.
Havia a droga de um monstro que tinha furado a fila.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.