9 de maio de 2024
Colunistas

Dezembros

Há coisa de mais de um mês os panetones começaram a aparecer nos mercados. Na verdade, alguns vendem a iguaria o ano inteiro. E eu lembrei dos dezembros dos anos 70 e 80.

Para quem cresceu nessa época, em dezembro começavam a pipocar os comerciais natalinos, como os da Varig e o do Banco Nacional, em 1971, aquele, que começava com “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faz…”

Era o momento também do especial de Natal da Turma da Mônica, pela primeira vez exibido em 1976, que encerrava com a canção: “Feliz Natal pra todos/ Feliz Natal…”

A decoração de Natal nas ruas era esparsa. Cada família fazia a sua: os enfeites das árvores eram passados de geração em geração. Às vezes, apesar do esmero com que eram acondicionados em caixas com algodão e retirados a cada ano, acontecia de quebrar algum, o que era motivo de tristeza legítima.

O banquete natalino quase nunca envolvia perus ou chesters – os primeiros caros e raros, e os segundos não existiam. Ficávamos nas rabanadas, e, às vezes, pequenos pacotinhos de nozes e castanhas – o que nossos poucos cruzeiros podiam comprar. No mais, era a comilança tradicional de famílias de origem portuguesa.

Não púnhamos meias nas janelas mas a esperança de presentes sempre existia. E eles também, apesar dos tais cruzeiros poucos. Os pais sempre fazem o que podem, e sempre até mais, e até o que não podem. Para isso foi que D’us os criou, não foi?

Dezembro no Rio setentista era um alívio no calor – parecia que o Verão respeitava a origem do Natal e liberava pequenas porções de noites frescas e estreladas. E nós, crianças, olhávamos a imensidão e não nos perguntávamos – mas talvez sentíssemos – o que seria o tal Futuro do qual a canção de Natal falava.

Nos dezembros de hoje, criam-se se novas memórias, forjam-se novas tradições, que vão, pouco a pouco, empurrando as outras para diante, como lemingues em um precipício.

Mas, em algum lugar onde os espaço-tempos se entrecruzam, uma criança está, com olhos imensos diante da noite imensa, a sós – com o Eterno e a Eternidade.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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