2 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

As janelas quebradas da Santa Ifigênia

Existe uma teoria, chamada “Teoria das Janelas Quebradas”, que diz basicamente o seguinte: se um prédio tiver uma janela quebrada, e se ela não for consertada rapidamente, logo outras partes do prédio serão vandalizadas também.

Aplicada à criminologia, a teoria pressupõe que a polícia deve agir de forma direta, firme e imediata contra os pequenos crimes – assim, é passado aos criminosos o recado de que a autoridade está presente e atuante – e que, se não há tolerância com os crimes menores, imaginem com a violência mais grave.

Hoje vi o caso da comerciante da Santa Ifigênia, região de São Paulo conhecida pelo comércio de eletrônicos, que teve sua loja invadida por uma multidão de dependentes químicos moradores de rua. Eram dezenas de criminosos, que arrombaram a porta com aríetes de madeira e saquearam tudo.

Há várias questões simbólicas a serem analisadas nesse caso, como o ressentimento contra quem simplesmente empreende e tem sucesso no Brasil, mas prefiro me ater a um outro, mais especificamente.

A teoria das janelas quebradas passa um recado, silencioso e tácito, dos pequenos para os grandes criminosos: violência, seja em que nível for, não será tolerada.

O efeito contrário acontece quando os mais altos cargos políticos de uma nação são ocupados por pessoas que declaram, abertamente ou nas entrelinhas, que há crimes menos importantes, menos graves, e que tais crimes serão tratados com leniência. Essa imagem é transmitida em ondas, atingindo rapidamente todos os grupos de criminosos.

Infelizmente, prevejo que o caso ocorrido na loja da Santa Ifigênia se repetirá com mais frequência – até que a região, tal qual um prédio com todas as suas janelas quebradas, será abandonada definitivamente.

O prejuízo da proprietária foi estimado em 80 mil reais. O prejuízo financeiro pôde ser estimado e talvez possa ser recuperado: o moral, esse, é incalculável – e irrecuperável.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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