Em 1975 era um tanto esquisito um guri cantar versos como “Foi quando o meu pai me disse: Filha…” O menino de 10 anos que eu era pouco se importava com isso e cantava a plenos pulmões “Ovelha Negra”. Cantava, se identificava e amava a canção.
Afinal, o que mais um garoto pobre que gostava de rock and roll podia ouvir, no Brasil, a não ser Rita Lee, a mais perfeita tradução do som que faziam os Rolling Stones, lá fora?
Rita enfileirava puras pérolas da estirpe de “Esse Tal de Roque Enrow”, “Eu e meu Gato”, “Agora só Falta Você” – e minha preferida dentre todas, “Coisas da Vida”. Deixei de acompanhar Rita quando ela iniciou a fase mais pop de sua carreira, ao mesmo tempo em que ela se fez um pouco personagem e paródia de si mesma.
Mas pouco importa: eu vou ter sempre na mente os versos que o menino de dez anos ouvia, no doce Rio de Janeiro setentista, que a linda e jovem Rita cantava.
São coisas da vida, afinal.
E quem sabe se atrás do porto tem mesmo uma grande cidade?
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.