Hoje eu vi as notícias sobre a água sendo vendida por R$90,00 o galão na zona afetada pelas chuvas em São Paulo.
Se eu fiquei surpreso? Nem um pouco. É apenas algo que se espera quando pensamos nessa entidade abstrata chamada “Brasil”.
Se eu fiquei envergonhado por ter nascido nessa porção de terra que chamamos “Brasil”? Também não. Já há muito passei dessa fase de sentir-me constrangido por ser brasileiro. Enfrentei o chefão, zerei esse jogo.
O que sinto está além da vergonha. Talvez uma nova palavra devesse ser cunhada para esse sentimento, um misto de vexame e desespero.
O que experimento é uma espécie de letargia:
– ah, escolheram o cara mesmo? Uia.
– ah, soltaram o ex e ele vai se candidatar de novo? Êta ferro.
– ah, água a 90 reais numa região devastada pela chuva? Ê lelê.
O Brasil há muito fracassou em quaisquer tentativas de construir um projeto de civilização. Quer saber? Acho que nunca sequer foi tentado. Não com seriedade e real vontade.
O Brasil, hoje, não passa da representação física e fiel daquela velha piada sobre ser o único país sem terremotos ou furacões – sendo a maior calamidade o seu próprio povo.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
