

Teve pouca, na verdade nenhuma, repercussão no mundo político a recusa do Brasil em firmar texto da ONU que fala da cooperação internacional em remédios, vacina e equipamentos médicos, propondo um acesso mais democrático a esses itens.
Foram 179 assinaturas. O Brasil não quis assinar para seguir a posição dos Estados Unidos que também rejeitou o apoio ao texto.
Os Estados Unidos tem uma razão forte para não assinar. Como sua indústria farmacêutica investe milhões de dólares em pesquisas, o governo americano quer garantir que ela possa receber de volta o fruto dos seus direitos sobre as descobertas. Não é algo dificilmente de compreender.
Acontece que num momento de epidemia, e foi assim na epidemia da AIDS, a tendência é uma forte pressão para flexibilizar esses direitos para que todos tenham acesso aos medicamentos vacina.
Na época da AIDS o Brasil precisava desse flexibilização. Foi aprovada uma lei minha na Câmara e de José Sarney no Senado garantindo o coquetel de remédios gratuito ao soropositivos.
A ideia era salvar o máximo de vida. Mas custava caro e o Brasil se empenhou, através do Ministro da Saúde José Serra, para que cooperação internacional prevalecesse sobre o respeito integral às patentes.
Tudo indica que o Brasil tenha sido chamado a participar de novo desse movimento, agora em que o coronavírus depende não só de novos remédios como também de vacinas e testes.
Os testes são mais fáceis de serem reproduzidos. Mas os remédios e vacinas vão custar caro e isso pode determinar a rapidez com que os países saiam da crise.
Creio que o Brasil está entre os quatro maiores produtores mundiais de vacina. Estamos também na corrida por uma vacina.
Mas a posição de apoiar a cooperação é mais interessante.
Os Estados Unidos têm uma política clara, tanto que Trump estimulou a compra de uma empresa alemã que está próxima de encontrar a vacina. Houve resistência na Alemanha e o negócio gorou.
Acredito que ao tentar comprar a empresa alemã, Trump tinha em mente o slogan America First mas estava pensando também na generosa fonte de renda que seria uma vacina, nesse momento da história da pandemia.
O que me parece estranho, não sei se por causa da quarentena, é a ausência de discussão no Congresso.
Um bom debate sobre o tema levaria o governo no mínimo a uma reflexão sobre onde está o interesse nacional nessa matéria tão importante.
Fonte: Blog do Gabeira