Hoje, houve manifestações no Rio e São Paulo contra o isolamento social. Em dois vídeos divulgados na rede, os manifestantes falavam que há exagero sobre a epidemia de coronavírus, um deles chegou a afirmar que era apenas uma invenção.
A melhor maneira de tratar essas pessoas seria levá-las, devidamente paramentadas com equipamento de segurança, para visitar um hospital de referência ou mesmo um hospital de campanha.
É difícil reconhecer a existência de um inimigo invisível. Lembro-me do desastre nuclear em Chernobyl. Muitas pessoas duvidavam que uma onda radioativa estava invadindo o norte da Europa, não compreendiam como o próprio leite estava contaminado.
No desastre de Goiânia que cobri há 30 anos e agora voltei no aniversário da tragédia, as pessoas não acreditavam que uma pedra iluminada, que, na verdade, parecia uma pedra preciosa, poderia ter causado tanto dano mesmo em que não a tocou diretamente.
Não se trata de um inimigo tangível como um bando de javalis raivosos que deixam um rastro de destruição.
Daí a necessidade de explicações que não levem o pânico mas deem uma ideia do que acontece. Por isso, acho valioso o vídeo japonês que usa câmeras supersensíveis para descrever o corona vírus.
Evidentemente que as câmeras não captam o próprio vírus. Mas mostram claramente como as gotas de um espirro saem do nariz, elevam-se e são dispersadas num ambiente fechado. Elas captam ainda como essas gotículas são expulsas numa conversação normal e como atingem facilmente o interlocutor.
É preciso reforçar o trabalho pedagógico embora muitas pessoas se recusem a aceitá-lo por acharem que se trata de manipulação política.
O trabalho pedagógico intenso e paciente pode evitar medidas de força que sempre amplificam a resistência. Foi assim em 1904, com a Revolta da Vacina. Intelectuais como Rui Barbosa se colocaram contra a vacina obrigatória e outras medidas de saneamento com o argumento da defesa de liberdades individuais.
Qualquer desliza das autoridades, na época Rodrigues Alves era o presidente, ampliava a revolta.
Para se ter uma ideia, o simples fato dos vacinadores verem o braço das mulheres era considerado uma invasão indecente da privacidade familiar.
Uma epidemia nunca é apenas uma luta direta não importa que vírus. Em quase todas elas, as pessoas resistiram à quebra da normalidade cotidiana. Em Hamburgo, os empresários não queriam interromper os negócios.
Portanto em cada caso, é necessário analisar a situação e avançar com muito cuidado. No Brasil, temos uma singular resistência do próprio Presidente da República, o que torna o processo mais delicado ainda.
Fonte: Blog do Gabeira