28 de abril de 2024
Ricardo Noblat

Delação sob suspeita

Em caso de delação premiada, não basta delatar. É preciso que o delator apresente provas do que disse. Até que apresente, a delação de Moura ficará sob suspeita

lobistadirceuLobista Fernando Moura
(Foto: Geraldo Bubniak / O Globo)

O lobista Fernando Moura, ligado ao PT, depôs uma, duas, três vezes ao Ministério Público Federal e ao juiz Sérgio Moro, o comandante da Lava-Jato. Na primeira, acusou o ex-ministro José Dirceu de ter recebido propinas em negócios da Petrobras, e de tê-lo aconselhado, em 2005, quando estourou o caso do mensalão, a fugir para o exterior.
Na segunda vez, admitiu ter mentido quando contou que Dirceu o aconselhara a fugir. Ontem, diante de Moro, pediu desculpas por ter mentido, reafirmou tudo que dissera da primeira vez em relação a Dirceu, e envolveu o senador Aécio Neves (PSDB-MG) numa história de indicação de cargos e de corrupção na hidroelétrica de Furnas.
Moura afirmou ter ouvido relato de um esquema de corrupção semelhante em Furnas, em que Aécio dividiria propina de contratos com o PT. Segundo ele, no início do primeiro governo de Lula, Dirceu, seu amigo, lhe contou que a presidência de Furnas estava reservada para Dimas Toledo, um técnico. Fora Aécio que pedira a Lula o lugar para Dimas.
Orientado por Dirceu, ele procurou Dimas. Então Dimas teria lhe dito que o rateio da propina seria feito entre o PT e Aécio.
É possível que Dimas, que já confessou ter mentido antes, esteja, agora, dizendo a verdade, somente a verdade. É possível também que esteja contando verdades e mentiras. Não se descarte, porém, a hipótese de ele ter apenas mentido nas três vezes em que depôs.
Em caso de delação premiada, não basta delatar. É preciso que o delator apresente provas do que disse. Até que apresente, a delação de Moura ficará sob suspeita.

bruno

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