10 de dezembro de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

O amor romântico à luz do sol!

Essa manhã, num trecho da minha caminhada na Lagoa, tive a alegre surpresa de encontrar uma amiga de longa data. Há tempos não nos encontrávamos pessoalmente.

Ela, duas décadas mais jovem do que eu e duas décadas acima da faixa de idade louvada por Balzac, que pôs abaixo a cultura geral dos homens da sua época, ao enaltecer a beleza e os encantos das mulheres que cruzaram o portal da juventude e entraram na vida adulta mantendo e muitas vezes ampliando beleza e encanto que fez delas deusas juvenis e poderosas sedutoras.+++

Esse é o caso da minha querida amiga.

Caminhando sorridente e graciosa em minha direção, ao lado de um homem, aparentemente uma década e meia mais jovem do que ela, nos encontramos.

Depois das apresentações, nada falamos sobre a merda toda que virou o mundo pelo avesso depois da maldita contribuição da secular cultura chinesa – com tanta riqueza para nos oferecer – desancou a peste que agora atormenta o mundo e empobrece a civilização ocidental.

Agora, ao cair da tarde, ela me ligou.

Juro que não me surpreendi quando ela me disse que o homem que conheci ao seu lado é o seu novo amor.

– Ora, querida, mesmo que ele fosse seu personal trainer, não me espantaria que por indução natural da sua parte ele cumpriria mais do que suas habilidades profissionais para atender sua expectativa em aprimorar sua musculatura sensual e amorosa.

Pitonisas têm o poder para fazer uso intenso das suas escolhas. Até aquelas escolhas desgraçadas, quando mergulham de cabeça, sem saber a profundidade do glamoroso espelho d’água do desejo, luxuria e paixão.

– Sei bem! Respondeu ela.

Minha amiga é a prova viva, em carne e osso, do que todo repertório dos romances inspirados no amor romântico, sedimentou nos nossos corações e mentes e nas buscas afetivas que ainda nos impulsionam na vida adulta.

Por precaução, ela disse que ainda que saiba que tudo pode acontecer, nada é forte o bastante para impedi-la de viver experiências da paixão e do amor romântico.

Porém, reconhece que não mais dispõe dos fluidos da juventude. Sabe os riscos. Mas, não congela por isso.

Lembrou de um episódio de meados dos anos 90, num dos seus mergulhos no espelho d’água da paixão desenfreada, em que acabou se esborrachando no gelo mas sobreviveu.

Sofreu como uma pobre diabo!

Na ocasião nos víamos com bastante frequência.

Na conversa de agora, ela fez questão de lembrar dos nossos papos do século passado, quando eu tentava convencer a mim mesmo sobre os graves efeitos colaterais do desejo ardente em idade mais avançada.

Ela se divertiu recordando minhas preocupações com os diagnósticos dos antigos gregos em relação às paixões desenfreadas que se apoderam de indivíduos bem acima dos 30 anos de idade.

Lembrou a minha ênfase no diagnóstico preventivo dos antigos gregos sobre os percalços da paixão avassaladora em pessoas muito acima dos 18 anos.

-Você ainda acha isso?

-Sim! Hoje, com mais convicção! Continuo mentalmente preocupado com a previsão dos antigos gregos quanto a paixão em idade avançada.

Lembre-se que até os mais libidinosos gregos da antiguidade alertavam para o risco de velhos corações não resistirem ao choque de uma desilusão amorosa.

Eles alertavam os apolíneos aventureiros provectos de que em seus organismos os viscosos fluidos corporais não tem mais a mesma dinâmica de quando eram jovens e se apaixonavam loucamente, se decepcionavam e voltavam a se apaixonar com o mesmo vigor.

Milhões de relatos e boa parte da literatura amorosa toca no desespero dos corações feridos que acabam milagrosamente se salvando na cama de uma nova paixão.

A maioria dos jovens com coração partido acaba se salvando.

O santo elixir da juventude tem o poder de abrandar as dores de um coração ferido, levando a vitima a olhar para outro lado e, de repente, se enfronhar numa nova paixão incandescente. Isso explica os baixos índices de morte entre jovens, mulheres ou homens, vitimas do coração partido.

Mesmo, hoje, as estatísticas de mortalidade entre os jovens confirmam o diagnóstico dos antigos gregos. Atualmente, jovens morrem mais em desastres de bigas, overdoses e ousadias atléticas do que de coração partido.

Entre os adultos, os índices de mortalidade por desespero amoroso também não apresenta índices alarmantes. Não conheço historias de velhos amantes escalando os píncaros de um penhasco de onde se lançam em direção a morte, depois de escrever um poema sobre a mulher amada que os rejeitou.

O que salva as almas jovens de subirem ao céu precocemente por não suportar a dor do coração ferido, não é a sabedoria.

O que os salva são a profusão hormônios e o tesão incontrolável!

Os fluídos corporais vigorosos, apesar do enorme sofrimento da dor da paixão, lançam o jovem infeliz na cama de outra mulher, onde dá sequência ao desejo, se restabelece e encontra nova inspiração para seguir em frente na senda da paixão e do amor romântico.

Está mais que provado que o tesão salva vidas!

Você vai fundo mais uma vez?

– Isso é um alerta? Posso morrer de amor?

– Nada disso! Meu testemunho é de um homem. Sou um gênero tão diferente das mulheres que poderia nascer em outro planeta e só vir a encontra-las aqui na Terra, saindo do útero materno.

Foram as mulheres que convenceram os homens a criar juntos uma mesma espécie para encher os lares de filhos e netos. Filha da costela de Adão é a piada mais cretina do cristianismo.

As mulheres têm fibra emocional diferente da dos homens. Não acho que elas cultuem a dor de cotovelo mas, tenho certeza, que elas têm componentes afetivos emocionais muito mais resistentes do que nós, homens.

Depois desse dialogo, ela me enviou o víde o(link)* de uma balada de amor romântico que ela considera a mais emocionante que conhece e uma citação do Camus.

As duas coisas juntas, mais o entusiasmo do nosso reencontro, dizem muito para mim sobre a sua ousadia diante da vida.

Essa manhã solar superou em muito a simples alegria de reencontrá-la alegre e destemida. Nossa conversa à beira da Lagoa me remeteu aos grandes temas da vida, os desafios da existência, a felicidade, as inseguranças e as questões realmente dignas da nossa dimensão como seres humanos.

Me levou a esquecer por momentos a massacrante repetência do noticiário e das profecias dos chatérrimos especialistas sobre a pandemia. Essa síndrome medíocre e cruel que esmagou o repertório das trocas sociais mais gratificantes.

Hoje, toda conversa se comprime dentro do limite pandêmico. Se não começam pela pandemia, sempre acabam num gueto escuro de Wuhan, onde tudo começou.

Para você: “Amo ou venero poucas pessoas. Por todo o resto, tenho vergonha de minha indiferença. Mas aqueles que amo, nada jamais conseguirá fazer com que eu deixe de amá-los, nem eu próprio e principalmente nem eles mesmos.”

Albert Camus.
* Minha amiga tinha no colo um cachorrinho que parece bichinho de pelúcia que olha para as pessoas conversando como se estivesse entendendo tudinho o que elas estão falando, inclusive seus sentimentos. O título do disco da sua canção preferida tem tudo a ver com ela e o cachorrinho da capa, um vira-lata de sobrancelhas expressivas me parece entender com mais intensidade os desejos de carinho e amor da minha amiga romântica de raiz.
Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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