1 de maio de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Liberdade e imprensa não são sinônimos

“Existe o risco que você não pode jamais correr e existe o risco que você não pode deixar de correr”. Essa frase emblemática de Peter Drucker, reconhecido como o pai da administração moderna, se estende da metodologia da administração para vários setores da sociedade.

Também é reverenciada nas reflexões de alguns artistas e intelectuais contemporâneos frente aos desafios da inovação estética e renovação sócio cultural e existencial.

Hoje essa frase me veio a cabeça ao ler uma matéria sobre o descrédito das grandes companhias de comunicação junto ao público.

Antes que alguém dispare um ‘mas… sem imprensa não existe democracia’, respondo de pronto que sou adepto da imprensa mas, não concordo com o conceito de que ‘liberdade & imprensa’ são sinônimos. Não são! Podem até ser antônimos. Não precisam muitos exemplos, basta citar China, Coreia do Norte e alguns veículos de comunicação do ‘admirável mundo livre’ com estreitas vinculações com o poder econômico e interesses políticos.

Dito isso vamos ao que interessa

Um trecho da matéria ‘How US media lost the trust of the public’, sobre o documentário da CBC, explora as consequências da perda gradativa de confiança do público norte americano na grande imprensa.

“Uma pandemia global, protestos antirracismo históricos e uma eleição presidencial turbulenta nos EUA deixaram os americanos grudados em suas telas em 2020 como nunca antes. As classificações de notícias a cabo dispararam, as assinaturas on-line aumentaram e a quantidade de tempo que todos passamos navegando na rede bateu recordes.

Mas à medida que as pessoas consumiam mais notícias, elas também começaram a confiar menos na mídia, mostraram pesquisas. De acordo com uma pesquisa recente da Gallup a porcentagem de americanos sem confiança na mídia de massa atingiu um recorde em 2020: apenas 9% dos entrevistados disseram que confiam “muito” na mídia de massa e 60% disseram que tem pouca ou nenhuma confiança nela.

O cenário da mídia americana tornou-se cada vez mais polarizado nas últimas décadas.

Uma pesquisa do Pew sugere que 95% da audiência da MSNBC são agora democratas, enquanto 93% da audiência da Fox News são republicanos. Uma tendência semelhante está se desenrolando online.

“Há um processo de seleção constante que está acontecendo e que o Vale do Silício está incentivando e acelerando”, disse o jornalista e autor norte-americano Matt Taibbi no novo documentário da CBC Big News :”Se você lê o Daily Caller, não vai ler o New York Times e vice-versa.”

O resumo Matt Taibbi(polarização) sobre a crise de confiança do público na grande imprensa é bem objetivo mas, no meu entender, insuficiente para explicar a larga extensão da crise de credibilidade dos meios de comunicação.

Para mim, setores da informação ainda não processaram o enorme impacto da rede mundial de computadores(Internet) na disseminação da notícia e, sobretudo, na expansão planetária da ‘livre opinião’, não submetida às regras editoriais. O que eles fizeram diante desse desafio?

Nesse ponto do papo, volto a frase do Peter Drucker: “Existe o risco que você não pode jamais correr e existe o risco que você não pode deixar de correr”.

Qual inovação as grandes empresas de comunicação se empenharam em desenvolver?

Algumas, no meu entender, aumentaram os riscos à credibilidade, invés de enfrentar com firmeza e inovação o risco pela perda da hegemonia informacional. Criaram empresas contra ‘fake news’ de viés ideológico na estúpida crença de ‘editoriar/cancelar’ comentários nas redes sociais. Escolheram o ‘risco que jamais deveriam correr’. Deu ruim e só piora.

Subiram a velha ‘Seção de Cartas à Redação’ para o setor de pautas, na santa inocência de que dando visibilidade nos seus veículos às tolices de alguns ‘influencers’ com milhões de seguidores, arrastariam mais leitores e teriam como ‘ganho’ uma multidão de leitores, na ilusão de que reativariam a credencial de ‘formadores de opinião’. Também deu ruim!

Agora, tentam resgatar alguma credencial para que o risco não se estenda demais, levando as grande empresas de comunicação para o buraco financeiro e a extinção.

Vale assinalar: O jornalismo não acabará. As pequenas empresas de comunicação, que surgiram após o advento da internet, entenderam o game digital e estão conquistando espaço público deixado no vácuo pela política editorial da BigNews de outrora.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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