5 de maio de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Cultura Digital

Ainda que não tenhamos um quadro claro sobre as transformações advindas da universalização da cultura digital, o que me vêm a mente são os métodos recorrentes nas simplificações de novos termos no meio social.

O mesmo parece acontecer agora em relação ao termo ‘disruptura’ que, em analogia ao termo ‘ruptura’ do período da ‘vanguarda histórica’, me parece uma discrepância reducionista.

Os impulsos que culminaram nos movimentos da vanguarda histórica, que antecedeu os vários grupos da contracultura e posteriormente se amalgamou no que se convencionou chamar de ‘pós modernismo’.

Para mim, é um acúmulo de equívocos que servem apenas para legitimar estilos, porém, não penetraram profundamente na mentalidade do nosso tempo. Sempre haverá inquietação sobre os desdobramentos da cultura. Lembro quando o pensador francês Lyotard transpôs o termo Pós Modernismo para vetores da produção artística/ cultural,em meados do século XX.

O termo teve origem entre engenheiros e economistas para datar o acesso às novas tecnologias de produção, posteriores à Era Industrial.

Contudo, trouxe algum conforto e aparentemente suprimiu dúvidas no meio cultural.

Logo o termo foi apropriado por milhares de pessoas das artes e cultura do período.Aquela época foi marcada por grande ansiedade.

Buscava–se um termo (ideia) que identificasse e até certo ponto legitimasse uma produção que romperia(sic) em definitivo, os padrões estéticos (significado/mensagem) da modernidade consagrada, digamos assim.

O vago paradigma pós-moderno foi campo fértil para florescer a ideia de que “tudo é arte e todo mundo é artista”. Pretensão ingênua, fundada em um conceito tosco de que se tratava de uma ruptura capaz de destruir hierarquias e padrões estéticos antecedentes. Até meus amigos, adeptos das teorias ‘desconstrucionistas’, viam aquilo como uma ode ao ‘laizes faire’ juvenil.

Vale lembrar que naquela ocasião, entre os vetores da cultura, as empresas de comunicação surfaram numa onda de prosperidade e atingiram índices fabulosos em volume de público/espectador/leitor, quanto em poder econômico.

Então, surge a Era da Informação.

Logo em seguida os desdobramentos da internet em sites e plataformas digitais de comunicação interpessoal em escala global.

O que até então parecia um futuro promissor, da noite para o dia, se revelou uma surpreendente realidade.

O que muitos achavam que seria um processo cultural gradual, foi veloz e abrangente.

A disruptura digital foi fulminante.

Pegou a todos mais rapidamente do que supunham e desejavam.

Foi um fenômeno que penetrou profundamente na mentalidade de milhões de pessoas mundo afora,independentemente das suas peculiaridades culturais e características regionais.

Em resumo; refletir ou projetar o presente pelo viés da cultura analógica, é, hoje, uma tarefa árdua que pode reverter em solitária melancolia e também em grandes frustrações para editorias empresariais que detinham a hegemonia da comunicação social.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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