3 de outubro de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Convergência dos extremos

Há vários rótulos disponíveis nas prateleiras do senso comum para colar em situações complexas.

Aqui estão alguns: fascista, comunista, extrema direita, progressista, conservador, neoliberal, golpista, ambientalista, machista, negacionista, feminista etc,etc, etc… Escolha qualquer um deles ou um que não esteja na lista mas, sujeite-se a verdade: rótulos nunca solucionaram problemas.

Reduzir os graves problemas do país ao confronto entre esquerda e direita é pura tolice. Basta lembrar que desde o fim do regime militar, quando a hegemonia de direita deteve o poder por mais duas décadas, impondo a quebra das liberdades civis como ‘garantia’(garantismo fardado) contra a implantação de um regime comunista no Brasil. Foi um tempo de guerra entre direita e esquerda, com o povo no meio.

Após a abertura, a sociedade brasileira optou votar na esquerda. Como se vê, a sociedade brasileira é aberta à mudanças. Sobretudo a classe média que votou em peso na esquerda. Um cala boca moral na estupidez da Marilena Chauí, que rotula como “terrorista” a classe média brasileira.

Assim, parte expressiva dos votos da classe média, ontem rotulada por uma besta quadrada como “donas de casa de extrema direita”, a esquerda ‘suave ou prepotente’ ganhou seguidas eleições e deteve o poder político por mais de duas décadas.

O que agora se coloca em pauta é a dura realidade.

Ao votar expressivamente na esquerda, a sociedade brasileira sinalizava o desejo de mudanças e ver acontecer uma gestão pautada na ética e acuidade no uso dos recursos públicos e no ensejo de ver políticas públicas voltadas para o bem comum.

Cabe aqui assinalar o ‘mensalão’ como a primeira e monumental decepção do eleitor de classe média com o rótulo ou a marca de fantasia ‘progressismo’.

Imagem: Google Imagens – YouTube

Na ocasião, ninguém imaginava que a reboque dessa opção viria uma corrupção em grande escala, o aparelhamento do Estado, a deterioração das instituições da república e uma escalada selvagem aos cofres das empresas estatais, sem precedentes na nossa história.

Suponhamos agora que os rótulos colados nos adversários na disputa à presidência surtam efeito eleitoral. Em tempos de garantismo togado, o cenário de hoje é avesso daquele que se apresentava nos anos 60’. Tanto isso é um fato que nos autos da abertura política constava uma série de ações cujo objetivo era realizar uma transição lenta, gradual e segura para a ‘democracia’ que vigorou nos últimos dois mandatos do regime militar.

Isso mesmo! Ficou claro o que todo cidadão consciente já sabia.

O regime militar foi uma ditadura mesmo. Não foi ‘garantia’ à democracia.

E agora? O ‘garantismo’ jurídico é de fato uma trincheira em defesa da democracia e do estado de direito?

Hummmm!

Vejamos; nas franjas da abertura política foi concedida anistia a vários políticos e personalidades exilados. São os próprios mandões reconhecendo a ditadura. Fato incontestável!

Hoje, um ‘exilado’ da vida pública nacional,não por crime de opinião ou atos de guerrilha, mas por crime comum, foi condenado em três instâncias.Três anos depois,foi beneficiado por uma espécie de ‘anistia’ individual.

Limpo e pronto para ser eleito e, pela terceira vez, voltar ao mesmo lugar onde cometeu os crimes pelos quais foi sentenciado.

Em vista disso, pergunto: que rótulo se aplica a esse caso único na história da política brasileira?

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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