18 de outubro de 2024
Carlos Eduardo Leão

Cafonice no meio da festa

O mundo está cada vez mais deselegante, mal educado e, sobretudo, cafona!

Já estou me preparando para as possíveis vaias e as mais ferinas críticas que receberei após este texto. Isso é que dá escrever em primeira pessoa e emitir suas opiniões como manda a crônica em sua máxima essência e estilo literário. O importante, porém, é a liberdade que ainda tenho de expressar o que sinto em relação ao cotidiano e de escancarar o coração sobre temas polêmicos.

Estou mais do que certo de que elegância e estilo não são apenas uma questão de se apresentar bem, mas, sobretudo, de educação. E não dependem de grifes ou cifras. Existe algo além do material. Algo metafísico, que vem do espírito de cada um de nós realçando ou apagando o magnetismo pessoal.

Elegância tem muito a ver com o clássico. Alguma coisa que resiste ao tempo e atravessa gerações, culturas e, principalmente, modismos.

Embora globalizado, o mundo de hoje ainda mantém tradições que nos prendem a certas regras de etiqueta, em especial àquelas que se referem aos trajes exigidos em determinadas cerimônias.

Os “dress codes” mais tradicionais, “passeio completo” e “black-tie”, que exigem dos homens gravatas clássicas com terno ou tipo “borboleta” que complementam os “smokings”, são acompanhados por trajes femininos que obedecem a códigos de vestimenta muito parecidos onde os exigidos sapatos ou sandálias de salto alto enobrecem definitivamente qualquer indumentária, principalmente em mulheres com porte e estilo no andar.

A elegância, em qualquer festa, não pode e não deve ser deixada de lado em função do tempo em que nela permanecemos nem, tampouco, se optamos por dançar, circular pelos salões ou permanecer de pé em rodas de bate-papos.

Está em altíssima voga, no meio da festa, homens e mulheres abrirem mão de suas elaboradas e caras produções. Os homens ao sacarem seus paletós, abrirem seus colarinhos, afrouxarem suas gravatas e arregaçarem as mangas de suas camisas juntam-se em deselegância às mulheres que largam seus estilosos sapatos para calçarem as, hoje cult, “havaianas” ou assemelhadas que, em nome do conforto, passaram a fazer parte da maioria das festas nos quatro cantos do Brasil, algumas acrescidas por cafoníssimos adereços como óculos de plástico, colares e pulseiras que piscam luzes de neon, entre outras aberrações circenses.

Esse fenômeno, muito ligado à avassaladora “indústria das festas” e que por infeliz modismo tem feito a cabeça do brasileiro, está muito próximo do descompromisso com a ocasião, normalmente bem planejada por anfitriões caprichosos, vítimas da referida “indústria” e que, certamente, gostariam de ver suas festas em alto estilo o tempo todo, deixando o circo para ocasiões propícias ao circo.

Nada a ver com as famosas festas venezianas onde máscaras de porcelana encobrem apenas o rosto dos convivas que, sempre elegantes, circulam pelos salões engravatados e bem calçados nestas ocasiões específicas.

O que vemos no Brasil é algo cafona, despropositado e que fere mortalmente a elegância, o estilo e o glamour. Se não se pode passar três ou quatro horas engravatado ou bem calçado numa festa, melhor é que se fique em casa de bermuda, camisa do Flamengo e rider, tríade máxima da cafonalha.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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