Estava no barbeiro, hoje, e ele me disse, em tom confidencial, que várias pessoas, em nossa cidade, tem contas no Only Fans. Vocês sabem o que é, claro. Então.
Fiquei matutando. Não sou santo, beato, carola, de forma alguma, muito pelo contrário. Acredito na liberdade individual plena, na qual cada ser humano pode e deve fazer o que lhe dá no bestunto – desde que não prejudique outras pessoas.
Portanto, se os jovens desejam comercializar fotos ostentando suas respectivas genitálias, para amealhar muito dinheiro com isso, está ok para mim: “no problemo”, como diria o exterminador bonzinho do Schwarzenegger, em “Terminator 2”.
O problema, amigos e vizinhos – e aqui eu abandono o tom levemente jocoso com o qual conduzi o texto até agora – são as consequências, a curto, médio, longo e longuíssimo prazo: muitos jovens, hoje, não sonham mais em ser médicos, engenheiros, arquitetos, policiais, professores. O raciocínio é simples e a conta fecha: “por que ‘perder’ tempo estudando, me graduando, pós graduando, se posso ganhar muitíssimo mais dinheiro … sem fazer nada?!”
Vocês identificam a dimensão do problema? Imaginam a potencial fuga de cérebros que essa situação apresenta? Conseguem visualizar a sociedade daqui a dez, vinte, 100 anos? Percebem o acelerado processo de implosão interna pelo qual estamos passando? Vêem as estruturas da nossa sociedade erodindo, corroendo por dentro?
E – e agora a situação fica pior – percebem também que esse quadro de erosão mental está ocorrendo DENTRO da parcela do mundo que é a maior responsável pela produção do saber, do conhecimento, da cultura? E que, sem esse saber, sem esse conhecimento, sem essa cultura, nós estamos fadados a deixar de existir, inclusive enquanto espécie?
Eu citei Schwarzenegger e “Terminator”, mas a imaginação de James Cameron, em sua distopia cinematográfica, passou longe da realidade.
Os verdadeiros exterminadores não serão as máquinas.
Somos nós mesmos.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.