Tentei entender o processo de vacinação no Brasil, mas estou achando confuso. A entrevista do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, complicou ainda mais os termos da equação. Ele disse para empresários que o Brasil já vacinou com duas doses 18 por cento da população. Não bate com os dados. Eles indicam que apenas 6,6 por cento receberam as duas doses.
O ministro prometeu vacinar todos os brasileiros até o final do ano. Também não bate. A expectativa otimista, com um ritmo de 1,5 milhão de doses por dia, é de alcançar 80 milhões no meio do ano, menos da metade da população.
A situação do Brasil é problemática mas de certa forma menos tensa que a da Índia. Lá já foram vacinadas 150 milhões de pessoas. Se chegarem a 300 milhões de pessoas, ainda ficarão de fora um bilhão.
A propósito da Índia, o partido do governo perdeu as eleições em Bengala Ocidental e os observadores acham que foi por causa da política sanitária de Modi.
Amanhã começa a CPI com depoimentos longos, pelo menos o de Mandetta vai se estender por algumas horas. Ele contribui com o roteiro da investigação pois não somente foi Ministro mas acompanhou todos os passos posteriores à sua saída.
Enquanto estava fora lia a história da menina de seis anos assassinada no interior do estado do Rio. É o segundo caso em menos de três meses. O primeiro foi o do menino Henry.
Vamos ver se nesta semana fica mais claro o processo de vacinação. Quem o tumultuou foi o próprio Ministério da Saúde com orientações desencontradas sobre guardar ou não a segunda dose.
A vantagem de ter ficado alguns dias fora e de quarentena foi poder assistir a muitos filmes e ler livros. Completei o Tao da Viagem de Paul Theroux e estou lendo uma ótima biografia de Humboldt. Aliás esta estou mais que lendo, preciso estudá-la com calma. O título é A Invenção da Natureza mencionando a visão de Humboldt que via os fenômenos naturais interligados numa rede viva e, portanto, vulnerável.
Alguns dias fora do Brasil acabam te fazendo pensar mais ainda no país e desejar que ele supere essa fase tão difícil. Não há ainda luz no fim do túnel. E o próprio presidente de Portugal advertiu : não devemos nos cegar com a luz no fim do túnel.
Nossa situação sanitária ainda é muito difícil e alguns elementos de endurecimento estão no ar: lideranças indígenas sendo pressionadas pela PF porque criticaram a política do governo, um militante petista espancado numa prisão de Brasília, familiares de Bolsonaro festejando o fechamento do Supremo Tribunal Federal em El Salvador.
Pelo menos os dias de maio costumam ser muito bonitos no Rio. Olhar o céu, tomar um pouco de sol, tudo isso ajuda.
Humboldt faz longas preleções sobre o azul do céu e os dias chumbo afirmando que provocam diferentes estados de espírito.
Por isso, incomodava-se tanto na Europa, que depois de sua longa viagem de 1800 a 1805, descobriu que era um homem tropical. Suspeito que também o sou, apesar de gostar de algumas rápidas saídas.
Fonte: Blog do Gabeira