27 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

Pequenos Gigantes Indefesos

Defendendo o touro e ridicularizando os toureiros. O francês Francis Cabrel tem uma bela música chamada “La Corrida”. Ironizando as covardes touradas e seus toureiros, Cabrel dá voz a um incrédulo touro que se pergunta: “…de onde saem estes acrobatas com suas roupas de papel? Eu nunca aprendi a lutar contra bonecas…”.

Deve ser por isso que, na maioria das vezes, os touros morrem e bastante feridos. E sem saber o motivo de tanto sofrimento, sem entender a graça de uma tourada. Mil perdões Picasso, mas eu sempre torço para o touro. Adoro quando ele mata uma destas “bonecas fantasiadas”.

Lembrei-me dos gigantescos e fortes touros torturados quando li essa horrível manchete: “Árvore gigante rara de 535 anos foi derrubada em Santa Catarina para virar cerca”.

Árvores não sabem se defender, mas se vingam…

“Era alta como um prédio de dez andares, larga a ponto de só poder ser abraçada por seis pessoas juntas e mais antiga que a chegada do navegador Pedro Álvares Cabral ao Brasil”.

Era uma imbuia. O crime ambiental e bestial foi cometido em Vargem Bonita (SC), em fevereiro de 2018, mas só agora descobriram que a vítima tinha, pelo menos, 5,5 séculos.

“É um problema cultural do nosso país, onde as pessoas não sabem o valor de uma árvore. Aquelas que caem por ação da natureza deveriam ser exploradas de forma mais nobre, virar peça de museu. Mas fazer uma derrubada de uma árvore rara saudável para fazer palanque de cerca é duplamente criminoso”, afirmou o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em árvores gigantes.

Marcelo foi muito educado. No Brasil as pessoas sabem o valor de porra nenhuma.

Não sabem o valor de uma árvore, de uma casa, de um quadro, uma praça, um chão limpo, um livro, um mínimo caráter. Isso aqui é o inferno da pré-civilização.

O nome científico da falecida, vejam que lindo, é “Ocotea porosa” e está em extinção. Derrubaram a imbuia e 16 araucárias.
O resto da árvore foi retirado e agora está exposto na sede da Polícia Ambiental para fins educativos. Grande merda!

Quem cortou a árvore gigante para fazer cerca vai ver o toco e se tocar? Se arrepender e repetir nunca mais? Porra nenhuma, deve é estar cortando outras.

Esse é o tipo de gente que deveria pagar uma multa equivalente ao absurdo que fez e morrer na cadeia, de tiro, injeção; enforcada, eletrocutada. Burro só aprende assim.

Os filhos da puta derrubam uma árvore de 535 anos para fazer uma cerca que dura nove anos, em média.
“No mercado ilegal o valor dessa imbuia poderia girar em torno de R$ 4 mil, caso fosse transformada em estaca de cerca, ou passar de R$ 20 mil se fosse vendida à indústria madeireira, virando viga, porta ou móveis finos de alta qualidade”. Pode isso, Arnaldo?
O mais ridículo vem agora: “o valor de mercado poderia superar, portanto, a multa de R$ 12.750 aplicada ao proprietário do imóvel, em razão da derrubada desta árvore junto de outros 16 exemplares da também ameaçada araucária”.

Os agentes chegaram ao local do crime após uma denúncia, mas encontraram ninguém… Claro! Iam cortar a árvore, sentar no toco e esperar a polícia? E como desaparece, da noite para o dia, uma árvore deste tamanho?

Segundo a Polícia Ambiental, a derrubada de árvores teria sido feita à revelia dos donos do terreno, mas estes acabaram multados por serem, em última instância, os responsáveis pela área.

Mais um gigante assassinado por anões mentais. Gigante com pés de folha. Raízes do Céu.

Também, pudera! O que esperar de um povo que roubou e derreteu a taça Jules Rimet?

Não matamos touros em arenas, mas maltratamos animais antes devorá-los. Matar a gente mata é gente mesmo.

PS: O Brasil não é o único a cortar árvores, queimar e roubar museus. Mas porque é aqui, porque continua, porque não tem jeito, parece que dói mais.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *