7 de setembro de 2024
Cinema

Caso de Polícia / The Good Cop

De: Andy Breckman, criador, roteirista, 2018, EUA

Nota: ★★★½

(Disponível na Netflix em 7/2024.)

Os dois atores principais são Tony Danza e Josh Groban, e a figura feminina que encanta os olhos, a mocinha da história, é Monica Barbaro. Os dez episódios da série, lançada em 2018, foram dirigidos por sete diferentes profissionais – Randy Zisk, Kevin Hooks, Rebecca Asher, Neema Barnette, Alex Hardcastle, Silver Tree, Rodrigo García – e, deles, eu só conhecia este último, um ótimo realizador.

OK, fiquei sabendo depois que Tony Danza é um veterano com belo passado na TV dos Estados Unidos, e Josh Groban é cantor de grande sucesso lá. Mas eu jamais tinha ouvido falar neles, nem nesses outros nomes – e acho que dá para afirmar que boa parte dos brasileiros que gostam de filmes e/ou séries me acompanham nesse desconhecimento.

Pois é – mas a série The Good Cop, exibida na Netflix como Caso de Polícia, é uma delícia, uma coisa absolutamente gostosa de se ver. É uma história de pai e filho cheia de excelentes tramas policiais e ótimas piadas em quantidades mastodônticas. O trabalho desses diretores aí é corretíssimo, e todo o elenco está muito bem. Tony Danza, Josh Groban e Monica Barbaro, em especial, estão ótimos.

O nome do criador da série é bastante conhecido – ou no mínimo deveria ser. Andy Breckman é o sujeito que criou Monk, uma das séries de maior sucesso da televisão, 124 episódios ao longo de oito temporadas, de 2002 a 2009, 22 prêmios, inclusive 8 Primetime Emmys, 47 indicações no total.

A idéia básica, o ponto de partida da série The Good Cop é nada menos que brilhante. É assim: o filho é o bom policial do título original. Um policial perfeito da NYPD, New York Police Department: um grande detetive, um investigador de talento, inteligente, sagaz, competentíssimo – e trabalhador, sério, aplicado, dedicado. Bem jovem, já é tenente-detetive. Sujeito correto, certinho, cumpridor de todas as leis, normas e regulamentos, de uma maneira obsessiva. Já o pai…

O pai também havia sido um grande detetive da NYPD, um investigador de talento, admirado, respeitado, consultado sempre pelos colegas. Só que… Exatamente ao contrário do filho, era um baita de um malandrão, um policial que jamais seguia o que dizia o regulamento – e, denunciado por corrupção, havia sido preso. Anos e anos depois, saíra em parole, liberdade condicional. É quando se passa a ação da série.

A jovem policial que era sua parole officer, a agente incumbida de vigiá-lo durante a condicional, tinha sugerido que o pai – já viúvo – passasse a morar com o filho. Faria bem para ele ter o exemplo do policial perfeito, contaria pontos para que a condicional fosse transformada em liberdade definitiva.

E aí acontece que rola um clima entre a supervisora da condicional do pai e o filho.

Ah, meu, mas que ideia maravilhosa para uma série que une histórias policiais e comédia!

Tony Danza faz o papel de Tony Caruso pai, que todos conhecem como Big Tony. Josh Groban, o de Tony Caruso Jr, que o pai e os amigos chamam de TJ. Monica Barbaro faz a agente policial Cora Vasquez. Os três, repito, estão ótimos.

Um certinho, o outro desonesto – os dois exageradamente

A história da relação entre o pai desonesto a não mais poder com o filho certíssimo, da convivência dos dois com a bela Cora, do dia a dia do Júnior e Cora na delegacia de polícia do Brooklyn, das amizades do Caruso pai – isso vai sendo mostrado ao longo dos dez episódios da série. Além disso, e paralelamente a isso, em cada episódio há uma trama policial, com princípio, meio e fim.

Desta maneira, a rigor, a rigor, apenas o primeiro episódio tem que ser visto necessariamente antes dos demais – porque ele, afinal, apresenta os personagens, as situações básicas. Mas os demais episódios são independentes – não há prejuízo se o espectador vir algum episódio fora da ordem. Aconteceu conosco: por engano, por um erro bobo, Mary e eu vimos o episódio 8 logo depois de ver na ordem os quatro primeiros. Depois retomamos a ordem, vendo o episódio 5, e assim por diante. De fato, as histórias policiais de cada episódio são resolvidas nele mesmo.

Não que isso seja novidade. De forma alguma. É um esquema comum em diversas séries de histórias policiais, como, para citar só duas, a longeva Law & Order: Special Victims Unit (1999-2024, e seguindo em frente) e a clássica Columbo (1971-2003).

The Good Cop tem várias qualidades, mas eu diria que a primeira delas é a ideia básica, a coisa da relação pai policial competente mas malandro, desonesto, corrupto versus filho policial competente e tão certinho demais que vira piada entre os próprios colegas.

E o criador e roteirista Andy Breckman não teve medo de exagerar. Big Tony é malandro demais da conta, excessivamente, loucamente. E TJ é certinho também insanamente, apavorantemente. “Quebrou uma regra, quebrou todas”, costuma dizer. No primeiro episódio, para diante de um farol vermelho. O farol está quebrado, vá em frente, diz o pai, sentado no banco do carona. TJ se recusa: se quebrar uma regra, a pessoa quebra todas.

Me ocorreu que, até ali os anos 1960, os jovens, os filhos é que eram retratados no cinema como os rebeldes, os que não seguiam as regras. De uma forma bem simplista, em geral o esquema era assim: pais caretas, filhos pra frente. Isso mudou no pós Era Hippie. Um exemplo típico, e delicioso, é Minha Mãe é uma Sereia/Mermaids, de 1990, em que a filha interpretada por Winona Ryder, aquela gracinha de atriz, tinha uma certa vergonha da mãe riponga, excêntrica, papel daquele vulcão que é Cher.

Este The Good Cop/Caso de Polícia bem que poderia ter o título Meu Pai é um Infrator.

Personagens bem construídos, deliciosas relações entre eles

Outra qualidade fantástica da série, na minha opinião, é a composição dos personagens, e as relações entre eles. Caruso pai, Caruso filho, Cora – todos os três são muitíssimo bem construídos. São tipos ricos, interessantes, agradáveis de se ver.

Mesmo sendo tão diferentes, antípodas, no que se refere ao comportamento diante da lei, das regras, dos regulamentos, pai e filho se amam – e gostam de declarar isso um para o outro. TJ conta para Cora, por exemplo, que na sua infância (ele é filho único) sempre teve absolutamente tudo o que queria – o pai o mimava, proporcionava a ele tudo possível e imaginável. (Cora, claro, pergunta para o rapaz algo assim: Pô, meu, e você não desconfiava de nada? Como poderia um detetive de polícia ter dinheiro para tanto presente?)

Mas não era apenas uma coisa material. Big Tony sempre tratou o filho com carinho, com cuidado. Continua cuidando no momento presente, em que se passa a ação, e o filho já é um profissional competente, respeitado. Big Tony é capaz de – se for necessário – confessar um crime que não cometeu para proteger TJ.

TJ, naturalmente, acha profundamente errada cada atitude do pai que não respeite a lei. E contesta o pai sempre que pode – mas ao mesmo tempo tem orgulho dele pelo detetive competente que ele foi. E gosta dele.

A mãe havia morrido alguns anos antes da época em que se passa a ação – e ela era adorada tanto pelo filho quanto pelo marido. Morreu atropelada por um sujeito que não parou o carro, arrastou o corpo por vários metros – e fugiu sem deixar rastro. Pai e filho visitam religiosamente o lugar em que ela foi morta; o filho a homenageia com flores; o pai faz planos para de alguma maneira encontrar o assassino e executá-lo.

Também a relação de Cora com os dois Caruso, pai e filho, é muito interessante. Jovem, séria, dedicada, a agente de condicional faz todo o possível para que o preso de quem ela cuida não reincida, não cometa nada proibido. Acaba se afeiçoando a ele – e se afeiçoando ao filho, com o qual convive na delegacia. Com o tempo, Cora decide fazer concurso para ser promovida a detetive – e passa no concurso, começa a trabalhar nas investigações de crimes juntamente com TJ e o parceiro dele, o sargento Burl Loomis (Isiah Whitlock Jr., à direita na foto abaixo, excelente no papel).

A relação entre os dois jovens, TJ e Cora, é deliciosamente esquisita. Cada um deles parece interessado em que role um namoro – mas ninguém toma a iniciativa, e então a coisa fica enrolada, de um jeito bem engraçado.

O sargento não corre. E conta os dias até a aposentadoria

E não são apenas os três personagens principais que são bem construídos e têm relações interessantes. Vários dos personagens coadjuvantes são bem atraentes. A começar desse sargento Loomis, uma figurinha sensacional. Loomis é sério, honesto – mas, ao contrário de seus jovens companheiros TJ e Cora, não é assim cheio de gás, cheio de energia. É bem mais velho do que eles, conta os dias para a aposentadoria. Sempre que pode, dá uma cochilada, seja em poltrona na delegacia, seja no carro durante uma investigação. E, um tanto rotundo, barrigudo, avisa sempre: – “Eu não corro”. Em várias situações, é preciso correr atrás de suspeitos. Loomis não corre.

Fala coisas engraçadíssimas – não para fazer piada, mas com a cara mais séria do mundo. Há uma sequência deliciosa no primeiro episódio em que o sargento Loomis está conversando com a capitã, a chefe da delegacia (o papel de Molly Price), no velório de um policial que havia sido assassinado. A capitã comenta que não entende por que o homem de que eles suspeitam teria feito aquilo, e então o sargento Loomis diz, seriíssimo:

– “Muita coisa não faz sentido. Por que as moedas de maior valor são menores? Por que o Havaí tem uma rodovia interestadual? Por que a Tarzan não tem barba? Por que os Flintstones tinham Natal?”

A capitã vai ficando irritada com aqueles exemplos – perfeitos, é verdade – de que muita coisa não faz sentido. Aí pergunta: – “Quando você se aposenta?”

O sargento Loomis, sem demonstrar ter compreendido o motivo da pergunta: – “Daqui a 474 dias.” A capitã: “Isso inclui hoje?” O sargento: – “Inclui”. Corta, e vemos algum outro fato acontecendo no velório do policial assassinado.

Essa, aliás, é outra das grandes qualidades da série: diálogos inteligentes, interessantes, deliciosos, impagáveis. Há vários assim em cada um dos episódios, às vezes um atrás do outro, sem parar. Uma criatividade admirável.

As tramas policiais são muito, muito bem boladas

Mais uma qualidade desta The Good Cop: as tramas policiais de cada episódio são muito, mas muito, mas muito bem boladas.

A trama do primeiro episódio já me deixou fascinado, queixo caído.

A base é exatamente o assassinato de um policial ali daquela mesma delegacia do Brooklyn. Um corpo é encontrado em um parque por dois garotos – e logo se revela que o morto era Jack Livingston, o policial que, muitos anos antes, havia denunciado corrupção de colegas, Tony Caruso entre eles. Big Tony havia dito mil vezes na cadeia que se vingaria de Jack Livingston.

Tony Jr. é encarregado de chefiar a investigação do crime do qual seu pai é o principal suspeito.

A autópsia revela que Jack havia sido asfixiado, drogado e, depois morto, alvejado com seis tiros de revólver.
Os exames de balística mostram que o revólver era do tipo dos usados pelos policiais do distrito. Mais: mostram que foram disparados pela arma de trabalho de TJ.

O espectador sabe que não foi o pai – até porque ele não seria burro a ponto de usar a arma do filho. Nem foi o filho – ele é o sujeito mais certinho do mundo.

Pois é, mas se TJ garante de pé junto que sempre está perto de sua arma, mesmo quando está dormindo, então quem foi? Como, onde, quando, por quê? E como provar?

Ah, meu, que bela trama!

Um resuminho de cada um dos dez episódios

Vou registrar aqui os títulos dos episódios, o original e o usado pela Neflix no Brasil, com uma rápida sinopse de cada um – menos do primeiro, que já não é mais necessário. Como sinopses sintéticas não são, de forma alguma, a minha praia, me aproprio de várias das usadas pela própria Netflix e pelo IMDb, com alguns pitacos meus.

Os títulos são assim marotos, engraçadinhos. Como toda a série.

1 – Quem armou esta cilada?/Who framed the good cop?

2 – Qual é o segredo da top model? What is the supermodel’s secret?

Uma topmodel famosérrima, dona de empresas, rica, bonita e gostosa (o papel da australiana Emma Ishta) se mostra toda interessada em Big Tony. Paralelamente, Tony Jr. investiga o caso de um sujeito assassinado por uma pessoa disfarçada de coelho. Uma coisa, é claro, tem a ver com a outra.

3 – Quem é a alemã feia?/Who is the ugly German lady?

Um homem que havia ficado amigo de Big Tony na prisão consegue fugir, e se torna o principal suspeito do assassinato de uma mulher nas proximidades da penitenciária. O fugitivo acaba se escondendo na casa de Big Tony, fantasiado de alemã. Como acontece em todas as tramas policiais da série, as coisas não são o que parecem.

4 – Será que TJ vai fazer um jogo perfeito?/ Will the Good Cop Bowl 300?

Big Tony, Burl Loomis, Cora e Ryan, o garoto nerd da delegacia (Bill Kottkamp) estão envolvidos em um campeonato de boliche. Um gadget inventado por Ryan faz com que TJ, que nunca havia gostado do jogo, se julgar o mais perfeito jogador deboliche do mundo. Naquele salão de boliche, um homem é assassinado.

5 – Será que o papai vai dedurar o cara?/Will Big Tony Roll Over?

Agentes do FBI pedem a Big Tony que preste depoimento sobre famoso gângster e chefe do tráfico que ele conheceu bem na cadeia. Dedurar é algo impensável para o ex-policial, que foi parar na cadeia porque um colega dedurou seus esquemas de corrupção – mas, ao saber que, antes da audiência, ele ficará sob a proteção do FBI numa gigantesca suíte do Four Seasons, Big Tony – que estava com namorada nova – diz que topa.

6 – Será que o apresentador é culpado?/Did the TV star do it?

No meio da gravação de um vídeo institucional da Prefeitura de Nova York, com um professor falando sobre a poluição ambiental, a quantidade de sacos plásticos lançada nos oceanos, uma das mulheres que faz a limpeza do local encontra um corpo de mulher embrulhado… em um saco plástico. A vítima era uma pesquisadora que trabalhava para um famosérrimo, respeitadíssimo apresentador de televisão, Richie Knight (o papel de Bob Saget). Cora e Big Tony são absolutamente encantados com o astro da TV. TJ acha que ele cometeu o crime.

7 – Quem matou o cara do teleférico?/Who killed the guy on the ski lift?

Realiza-se uma convenção de policiais em uma estação de esqui. Uma bela jovem, Macy (Rebecca Rittenhouse), é a única suspeita de assassinar um policial que ela havia namorado e com quem na véspera brigara na frente de dezenas e dezenas de pessoas. Apenas TJ acredita que ela é inocente, e com isso desperta a ira de todos em volta dele. A trama toda é muito bem elaborada. Bem, como quase todas as dez tramas policiais da série. Mas esta é das melhores.

8 – Será que Cora vai mesmo se casar?/Will Cora get married?

Neste oitavo episódio, Big Tony finalmente consegue identificar o sujeito que, anos antes, havia atropelado e matado sua mulher, Connie – e vai atrás do cara para matá-lo. Sua busca, porém, é interrompida: TJ corre grande perigo ao investigar o bonitão por quem Cora se apaixonou.

9 – Por que mataram o ajudante do garçom?/Why kill a busboy?

Esta é outra excelente trama. Big Tony está com uma dama no Romanelli’s, seu restaurante preferido – que Frank Sinatra costumava frequentar – quando dois bandidos entram, anunciam que é assalto, vão recolhendo carteiras, jóias e celulares dos clientes e matam um ajudante de garçom. TJ, Cora e Loomis vão investigar – e logo descobrem que os bandidos fugiram deixando os sacos com o produto do roubo no chão da cozinha. O assalto – percebem – era falso. A intenção era matar o rapaz. O motivo do crime envolve segredos empresariais, informações privilegiadas e fortunas, fortunas imensas.

10 – Quem recortou a senhora?/Who cut Mrs. Ackroyd in half?

Mrs. Ackroyd, uma senhorinha idosa fofa, é literalmente cortada ao meio em um acidente no elevador do prédio em que mora. Era a terceira morte em acidente naquele mesmo edifício no espaço de alguns poucos meses. A capitã do distrito policial manda que TJ e Cora se façam passar por marido e mulher, ele sobrinho da boa velhinha, para se hospedar no apartamento dela e investigar a história. Os dois policiais estão sempre brigando, sempre às turras – embora no fundo se gostem bastante, e só eles não percebem que deveriam mesmo era ficar juntos. Neste último episódio, misturam-se três temas: a trama policial – as mortes no prédio –, a cômica relação de TJ e Cora, e ainda a busca permanente de Big Tony pelo sujeito que atropelou e matou Connie.

A intenção era fazer mais uma temporada

É necessário registrar: os realizadores pretendiam fazer uma segunda temporada da série.

Isso fica claríssimo na sequência final do décimo e último episódio.

Como já foi dito e repetido, cada trama policial tem começo, meio e fim em cada episódio. Cada caso, cada crime é investigado e resolvido no mesmo episódio. Em nenhum dos nove primeiros há um final deixando um mistério em aberto, como chamariz para que o espectador queira logo ver o seguinte. Não, não há isso. Cada episódio – insisto – é independente.

Mas o décimo e último é diferente.

O caso policial – a morte de Mrs. Ackroyd e as duas outras – é resolvido, como todos os anteriores. Mas a história dos personagens centrais, ao contrário, deixa o espectador absolutamente curioso para saber o que virá a seguir. A busca de Big Tony pelo sujeito que atropelou e matou sua mulher tem uma grande reviravolta, uma revelação bombástica na última sequência da série!

Seguramente, com toda certeza, o que aconteceu foi que a série não deu o retorno esperado, e os produtores decidiram não bancar uma nova temporada. Uma pena. Uma grande pena.

No IMDb, The Good Cop tem boa avaliação: nota 7 em 10, média dos votos de mais de 7 mil leitores do site. Há diversos comentários elogiosos. Eis alguns títulos: “Obrigado, Netflix, por este show engraçado”; “Engraçado & divertido”; “Velha escola adorável”; “Engraçado… leve e divertido”.

Um leitor do site enciclopédico escreveu: “Por que, Netflix? Por quê???!! Josh Groban tem enorme potencial como ator. E Tony Danza ainda está bem. Triste que a Netflix tenha anunciado seu cancelamento depois de apenas dez episódios. Achei que os autores fizeram um bom trabalho, com idéias novas.”

No Rotten Tomatoes, a avaliação é ainda melhor do que no IMDb: a série tem a aprovação de 83% dos leitores. E, no verbete do site agregador de opiniões, há informações bem interessantes sobre os dois atores centrais de quem eu jamais tinha ouvido falar. Tony Danza, que já foi indicado ao Emmy no passado (por O Desafio/The Practice, série de 1999), teve aqui seu primeiro papel como protagonista desde o final dos anos 1990!

Andava desaparecido – e voltou com tudo neste The Good Cop. Foi um dos produtores, e se deu ao direito de cantar (faz uma bela interpretação do clássico “My Funny Valentine”, no sexto episódio) e até de sapatear.

Já Josh Groban é cantor profissional. Cantor e compositor. Nascido em Los Angeles em 1991, é um recordista: em 2007, havia vendido mais de 22 milhões de cópias de discos. Tem oito álbuns, e já teve indicação ao Grammy. Nunca tinha ouvido falar nele por pura ignorância!

Uma série israelense serviu de inspiração

The Good Cop é uma série a absolutamente norte-americana, nova-iorquina até a medula, como um filme de Woody Allen ou de Martin Scorsese, como o díptico de Wayne Wang e Paul Auster Cortina de Fumaça/Smoke e Sem Fôlego/Blue in the Face (1995). Daqueles que fazem a gente sentir o cheiro do Brooklyn – mesmo para quem não tenha passeado pelas ruas do Brooklyn, não tenha olhado Manhattan de lá, como os niteroienses olham para o Rio de Janeiro.

Uma criação do norte-americaníssimo Andy Breckman, que não nasceu no Bronx como Woody Allen, nem no Queens como Scorsese, nem em Newark, do outro lado da divisa com Nova Jersey, como Paul Auster, mas, diabo, é da Filadélfia, ali pertinho. Conhece muito bem aquele mundo.

E no entanto…

The Good Cop se baseia em uma série da televisão israelense, escrita por Erez Aviram, Tomer Aviram e Yuval Semo.

O que demonstra mais uma vez como estava certo André Abujamra quando canta que “o mundo é pequeno pra caramba, o mundo é uma salada russa, tem nego da Pérsia, tem nego da Prússia, o mundo é uma esfiha de carne, tem nego do Zâmbia, tem nego do Zaire”.

Adaptação de uma série israelense!

Alguns meses antes de ver esta série absolutamente norte-americana, nova-iorquina até a medula, vimos Schlafende Hunde, no Brasil Bastidores de uma Conspiração, uma série absolutamente alemã, tedesca até a medula… que é uma adaptação de uma série israelense!

Bem… A série israelense tem o título de Hashoter Hatov, que significa exatamente O Bom Policial. Foi apresentada entre 2015 e 2019, com 45 episódios. E, pelas sinopses do IMDb e da Wikipedia em inglês, ela tem pouca relação com o que Andy Breckman escreveu. Eis uma sinopse escrita por um leitor do IMDb que se assina Ben Amnon null:

“Uma comédia policial israelense. Danny Confino é um policial que trabalha em uma delegacia de polícia suburbana. Embora seu temperamento irritadiço muitas vezes o meta em problemas, ele é absolutamente honesto e dedicado. Ele tenta se virar na convivência com sua família disfuncional, sua ex-mulher que se assumiu como lésbica, um possível novo caso com uma de suas colegas e com um chefe da delegacia que não tem qualquer traço de autoconhecimento e uma obsessão por creme para as mãos.”

Dá para perceber, portanto, que The Good Cop não é propriamente uma adaptação da série israelense. Ela apenas se inspira na outra. Da original, pelo jeito, Andy Breckman manteve, na série que criou, apenas o fato de que o protagonista é um policial absolutamente honesto que trabalha numa delegacia que não fica no centro da cidade – afinal, o Brooklyn não é Manhattan. E só…

Toda a questão de que se trata de um jovem policial honestíssimo filho de um velho policial desonestíssimo parece ter sido de fato criação do escritor e roteirista americano.

Então está de parabéns Andy Breckman. Não vi Monk, nem tenho qualquer interesse em ver – mas este The Good Cop, meu, é uma deliciosa diversão.

Anotação em julho de 2024

Caso de Polícia/The Good Cop

De Andy Breckman, criador, roteirista, 2018, EUA

Direção Randy Zisk, Kevin Hooks, Rebecca Asher, Neema Barnette, Rodrigo García, Alex Hardcastle, Silver Tree

Com Tony Danza (Tony Caruso pai),

Josh Groban (Tony Caruso Jr.)

Monica Barbaro (Cora Vasquez)

e Isiah Whitlock Jr. (sargento Burl Loomis, parceiro de Caruso Jr. e de Cora), Bill Kottkamp (Ryan, o jovem policial nerd), John Scurti (Wendell Kirk, amigo de Caruso pai), Molly Price (a capitã de polícia, chefe da delegacia), Emma Ishta (Belinda Mannix, a top model do episódio 2), Billy Malone (sargento Chet Finch, episódio 1), Orfeh (Donna Livingston, a mulher do policial assassinado, episódio 1), Bob Saget (Richie Knight, o astro da TV, episódio 6), Glenn Fitzgerald (padre Kokesh), Frank Whaley (Joseph Privett, o homem que atropelou Connie Caruso), Alanna Ubach (Debbi Paddock), Rebecca Rittenhouse (Macy Clark, a bela moça do teleférico, episódio 7), Barbara Singer (Mrs. Ackroyd. episódio 10), Carlos Ibarra (Porfirio Santini, o ajudante de garçom, episódio 9), John Carroll Lynch (Sherman Smalls), Andrew Dolan (Lionel Sykes)

Roteiro Andy Breckman (criador), Jonathan Collier, David Breckman, Hy Conrad

Baseado em série israelense criada por Erez Aviram, Tomer Aviram e Yuval Semo

Fotografia Eric Moynier

Música Pat Irwin

Montagem Deborah Moran, Sheri Bylander, Wadeh Arraf

Casting Rori Bergman

Desenho de produção Loren Weeks

Figurinos Staci Greenbaum

Produção Brad Carpenter, Tony Danza, Antoine Douaihy, 3 Arts Entertainment

Cor, cerca de 450 min (7h30)

Fonte: 50 anos de filmes

Sergio Vaz

Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.

Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.

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