Desrespeito à memória da ex-mulher e mãe dos filhos de Lula
Nem quando se esforça para ser civilizado, Bolsonaro consegue. É o moleque de rua acostumado a bater carteira, roubar celulares e que não resiste à chance de ganhar mais alguns trocados.
No primeiro bloco do debate na Band, sentindo-se acuado pelas perguntas de Lula sobre a pandemia, Bolsonaro, no seu momento mais vagabundo, citou a ex-primeira dama Marisa Letícia.
O que ele disse, depois de ouvir Lula dizer que perdera a sogra para a Covid-19 e que Bolsonaro não visitou parentes dos mortos:
“Fez discurso em cima do caixão da esposa e está se comovendo pela sogra. Senhor Lula, entenda uma coisa, por favor: os enterros eram com caixão lacrado, ninguém podia ir ao enterro, nem familiares. E eu visitei hospitais, sim, e o senhor não tem conhecimento. Só que eu não preciso fazer propaganda do que faço. Me comovi. Me preocupei com cada morte no Brasil”.
Não há registro de visita sua a hospitais, a não ser quando passou mal. Não há registro de Bolsonaro ter-se comovido com um único caso de morte pelo vírus – e morreram quase 700 mil pessoas.
Se ele se preocupou “com cada morte no Brasil”, não demonstrou publicamente. Demonstrou escárnio, debochou dos mortos, imitou um sufocado por falta de oxigênio. “Não sou coveiro”, afirmou.
Lula não caiu na armadilha de Bolsonaro. Fingiu não ter ouvido a referência à sua mulher e mãe dos seus filhos. Mas quando pôde, lacrou-o, chamando-o de “rei das fake news” e de “puxa saco”.
Revelou que mandara pesquisar na Câmara os discursos de Bolsonaro e que não encontrou nenhum que o criticasse. Em vídeo, Bolsonaro diz que votou em Lula para presidente em 2002.
Ele só não contou que queria emplacar o ministro da Defesa do governo e que bateu na porta da Granja do Torto onde o presidente eleito então morava. Lula sequer o recebeu.
Bolsonaro não seria Bolsonaro se não se mostrasse desumano e cafajeste.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.
