Até um simples café parecia ser degustado em New York, numa pausa para que se lesse o jornal e se fumasse um cigarro.
Quando havia jornais e se fumavam cigarros.
A roupa era funcional e, ao mesmo tempo, poderia ser capa da Life ou da Vogue.
Todos os perfumes eram Chanel, ainda que não fossem.
Não existia ”crush”: se flertava. Perdemos até nisso: não há elegância em “crushar”, sequer existe o verbo.
O assoalho da cafeteria sujo era sinal de humanidade, sinal de ocupação humana, ambiente cálido, oloroso, rescendendo a baguettes frescas e bules cheios, onde olhares se cruzavam, onde se prenunciava, se ensaiava, se curavam amores.
Hoje somos desumanamente insossos, assépticos, inodoros e tendendo à incoloração: transparentes, no pior sentido da palavra.
A vida nos transpassa e nada sentimos.
E eu só quero descobrir uma fresta entre os tempos que me permita voltar para 1957, sentir o cheiro absurdo desse café e descobrir o que capturou o interesse de Marie-Helene Arnaud.
Porque, hoje, a Vida nos transpassa.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.