Às vezes penso, ou sinto, ou mesmo apenas simplesmente SEI, que o cara estranho, que me devolve o olhar intrigado no espelho, o homem de 57 anos, 1,85m e 90kg, com barba e cabelos cada vez mais claramente grisalhos, não passa de um claro simulacro senciente vagamente de mim.
Um mero efeito especial inserido por um programador a soldo, uma memória recorrente, um clone da Matrix, um personagem de sonho de um sábio chinês, um coadjuvante para Efeito Mandela, um reptiliano, inca venusiano, um índio que descerá de uma estrela colorida, brilhante. Um time traveller de IPhone em 1860. Um doppelgänger. Sei lá.
Apenas sei que o meu verdadeiro Eu ficou para trás, perdido em algum ponto da estrada do Tempo, para sempre dormindo e acordando em algum momento dos anos 70, inconsciente da casca que finge-me ser, atravessando arduamente os áridos anos 20 do século 21.
Enquanto meu Eu real, nesse exato instante, come um cachorro-quente Geneal, toma uma coca-cola com lay-out branco em sua garrafa de vidro espesso, enquanto o sol nas bancas de revistas ilumina Manchetes e Fatos e Fotos, ouvindo em um continuum looping espaço-temporal as Ronettes cantando “Be my Baby”, em um video-clip impossível de sequer ser imaginado hoje.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.