17 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Ela caminhava na loja de departamentos quando sentiu o cheiro

“Sentiu o cheiro” é um modo pobre de descrever: o cheiro a ABRAÇOU, beijou sua testa e a pôs para dormir. Era o perfume da loção pós-barba do seu pai. Ela não sentia há anos – mas jamais esqueceria. Como esquecer?

Aquele cheiro a acordava todas as manhãs, e a levava para tomar café. Era naquele cheiro que ela mergulhava, em busca de conforto e abrigo, onde se escondia do mundo quando a queria maltratar.

Olhou em volta, atarantada, procurando a origem do cheiro – sabia que não era seu pai, claro, mas queria um pouco mais daquele elixir do passado, daquela fonte de bem-aventurança, o perfume que traria de volta os anos em que tudo era mais simples, e onde as soluções para todos os problemas se encontravam no abraço e no peito do pai.

Fechou os olhos e se recostou no balcão de celulares – e voltou mais uma vez ao tempo em que eles não existiam, o tempo em que corria descalça na rua, ouvia Carole King e Kate Bush e esperava paciente a chegada do pai.

O cheiro se foi. Mas a lembrança dele sempre estaria com ela.

Sorriu e seguiu em frente.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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