17 de maio de 2024
Colunistas Fernando Fabbrini

Boicote hediondo

O filme que não querem que você assista.

Foto: Acir Galvão

Bairro de periferia de uma cidade latino-americana. Mulher elegante toca a campainha de uma casa modesta. Simpática, ela apresenta-se como caçadora de talentos infantis para TV, moda e publicidade. Desmancha-se em elogios aos filhos do casal, uma menina e seu irmão mais novo. Como você é linda, querida; como canta bem! E que menino guapo! Os pais se entreolham, esperançosos. Quem sabe um reforço para o magro orçamento doméstico? A mulher redobra elogios; diz que as crianças farão sucesso. E deixa um cartão com endereço e data para um teste.

Dias depois a mãe arruma a filha e o irmãozinho para o compromisso. O pai leva-os de ônibus até o prédio. Numa sala estão a mulher e outras crianças. O pai quer assistir ao teste, mas a mulher diz que isso atrapalha; que volte no final da tarde. Portas fechadas, a mulher passa batom nas garotas, ensina-as a posar, a soltar os cabelos, a dar beijinhos para a câmera. Anoitece; o pai retorna. Bate à porta – e nada. Bate outra vez, sem resposta. Desesperado, invade o local. Não há mais ninguém lá dentro.

Assim começa o filme “Sound of Freedom”. Baseado em fatos reais – um recente resgate de dezenas de crianças que sofriam abusos num resort em Cartagena, na Colômbia –, a produção de baixo orçamento de um pequeno estúdio americano já rendeu US$ 150 milhões nas bilheterias e vai gerando rebuliços.

O filme expõe as entranhas do tráfico sexual de crianças no sombrio universo da pedofilia, monstruosidade que se alimenta principalmente das comunidades mais pobres. Pedofilia é uma coisa abominável, asquerosa, repugnante; concordam? Então, por que será que “Sound of Freedom” está sofrendo boicotes, sabotagens e é estranhamente ignorado por colunistas do entretenimento e da cultura? Nas salas dos EUA e Europa, onde já é possível vê-lo, espectadores relatam imprevistos esquisitos: evacuações de emergência sem explicações, panes no ar-condicionado, confusões na compra de ingressos pela internet e outros percalços. Parece que o lobby dos pedófilos é poderoso.

O produtor do filme Eduardo Verástegui, em entrevista a um canal de TV, divulgou a nebulosa recusa da Netflix, Amazon e outras redes: “Ninguém quer ver crianças sendo traficadas, isso não é para nós” – disseram. Alguns críticos acusam a obra de conter “propaganda cristã direitista”. Tolice: no filme, a palavra “deus” aparece rapidamente num único diálogo, e a pedofilia põe em risco crianças de toda a raça humana, sem vieses ideológicos. Logo, esses críticos certamente integram a turma permissiva que considera o abuso infantil uma “opção afetiva”, e não “estupro de vulnerável”.

É compreensível que tráfico sexual de crianças possa gerar mal-estar na audiência em busca de diversão no sábado à noite, mas precisa ser encarado e denunciado sem tréguas. Em 2022 o número de imagens pornográficas de meninos e meninas na internet cresceu 5.000% em relação ao ano anterior. Estima-se que cerca de 2,5 milhões de crianças raptadas sofram abusos sob regimes de escravidão em submundos bem acobertados e bilionários – sobretudo na Ásia, América Latina e África. Isso faz da pedofilia a rede internacional criminosa que mais cresceu; já superou em valores o tráfico de armas e, em breve, vai ultrapassar o de drogas.

Como bem lembrado no filme, o aumento assustador dessa criminalidade deve-se a uma simples questão de marketing: vende-se uma porção de cocaína só uma vez; mas uma criança pode ser vendida de cinco a dez vezes por dia.

Fonte: O Tempo

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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