“A Arte existe porque a vida não basta”. (Ferreira Gullar)
Arte é a força das cores, dos traços, dos cinzéis, das tintas, do ferro, do aço, do mármore, enfim, tudo aquilo que, em mãos sensíveis e inspiradas, se transforma em expressão.
Adquirir uma ou várias obras de arte implica em escolha. Seria como a tentativa de formação de um belo discurso. Ao dispormos as obras num determinado grupo, organizando-as por escolas, matizes ou época, formamos uma sentença, uma frase, uma afirmação.
Segundo Kátia Canton, “… obras de arte são como palavras que, combinadas e recombinadas, formam frases que permitem uma leitura plena de sentido.”
Pode-se afirmar, sem dúvida, que na construção do repertório de uma coleção está implícito o ato de garimpar toda uma sensação visual até que o conjunto resultante, expresso às vezes por uma única obra ou mais possa evocar uma mensagem, uma sensação ou uma forma de expressão.
O sentido do colecionismo é, portanto, mais do que estético ou econômico. É polifônico. Tem algo de simbólico.
À parte as características formais e o investimento que se faz para sua aquisição, “as obras de arte são um instrumento para o diálogo de quem as possui ou as expõem com as dinâmicas que envolvem a construção de seu tempo, o entendimento de sua história e sua própria existência no mundo” , sentencia o crítico Walmir Ayala.
Ao ser perguntado como era possível criar Moisés a partir de um bloco de carrara, Michelangelo, com a calma dos iluminados, respondia que Moisés estava lá dentro. Restava-lhe aparar os excessos do mármore.
Em contrapartida, o artista contemporâneo recria as pulsações da vida, buscando na arte uma forma de mobilizar o mundo globalizado. Tem um papel social e político claro e assumido a partir de uma plena e inquietante liberdade de expressão além, claro, de uma forte tendência contestatória dos absurdos e das mazelas que atingem a dignidade latu sensu. Portanto, “uma obra de arte não responde a perguntas, ela as provoca” assegura o genial Leonard Bernstein.
Talvez seja este o grande responsável pelo impulso hoje ao colecionismo que, bem dosado, com conhecimento e disciplina necessários ao bom investimento e com a sempre indispensável assessoria dos mais experientes, seja uma das mais extraordinárias formas de crescimento pessoal, cultural, e artístico.
Concluo dizendo que a arte está além de seu valor econômico, sua modalidade, sua técnica. Ela faz bem ao espírito. Transcende ao imaginário. Repousa. Alegra. Instiga. Incomoda. Enfim, encanta.
NA: Na foto a obra “Too Soon” de Waltercio Caldas, 77 anos, um dos mais importantes e premiados artistas brasileiros, respeitado em todo o mundo com obras em importantes museus no exterior. “Too Soon” esteve presente Bienal de SP de 2018 e está reproduzida em livros e catálogos. Na imagem, a obra contracena com a “chaise” Le Corbusier, numerada e registrada na italiana Knoll Internacional, um clássico do modernismo mundial e acervo permanente do MoMA de NY.
Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão