7 de setembro de 2024
Carlos Eduardo Leão

Adoráveis predadores

Filhos são a razão da vida. Ponto final!

Sempre tenho grandes anestesistas ao meu lado. Eles representam uma inquestionável segurança a qualquer ato operatório, além de serem grandes conselheiros clínicos nos nossos desafios cirúrgicos.

Além disso, diria, são um mix de médico e filósofo, mesmo porque as minhas sempre longas cirurgias os inspiram já que, se não filosofarem, quase dormem perante tanta monotonia do fio após fio que se repete, em média, dez mil vezes no nosso cotidiano matinal.

Hoje, porém, um deles se superou: “Cadu, você não acha que filho é um predador?”

E aí, com a tranquilidade dos competentes, que meditam sem perder a preciosa atenção aos monitores, discorre sobre suas teorias que concordo e passo a contar-lhes.

Mesmo morando no útero, o filho já causa uma certa mudança no comportamento marital. Não só pelas transformações físicas que traz à mãe, razão talvez da insegurança refletida na diminuição da libido que transcorre neste período deixando os maridos num segundo plano na importância hierárquica do novo lar que, desde a concepção, se transforma para recebê-lo. Um a zero, predadores.

Isso sem falar na preocupação que o período da gravidez traz aos maridos, principalmente se forem médicos. Pessoalmente, concordo com o grande “filósofo” e, como ele, penso que gravidez, apesar da progesterona, pode até se transformar numa, digamos, “doença” com final feliz já que judia um pouco da mulher, tanto física quanto clinicamente.

São tantas as transformações que somente elas resistem à essas mudanças com tanta força e coragem. Os homens não teriam nem um décimo da bravura delas. Dois a zero, predadores.

Ao nascerem, choram nas mais impróprias horas, reclamam de fome e se dependuram sem piedade nas túrgidas e descendentes tetas maternas, antes denominadas “seios”, versão poética que os mais românticos referem-se às mamas. Três a zero.

Xixi, cocô e golfadas por sobre nós só não são piores que os preciosos momentos de sono e tranquilidade que, desde tenra idade, nos tiram de maneira impiedosa, sejam nas suas horas de mais puro entretenimento como nas baladas, festas noturnas e nas caronas com amigos, sejam nas febres altas ou nas enfermidades sem um diagnóstico preciso, que nos arrasam definitivamente. Quatro a zero pra eles.

Quando largam as tetas maternas, passam a mamar no pai, às vezes ad eternum. Cinco a zero!

Faculdades, pós-graduações, intercâmbios, carros, apartamentos, festas diversas, muitas vezes adiam projetos pessoais que sonhamos durante anos. Isso sem falar das inúmeras vezes que nos recolhemos para dar a vez, latu sensu, às investidas próprias da juventude. Goleada!

Não importa o placar. Não importa a acachapante goleada. Chegamos à conclusão, meu querido anestesista e eu, que aqui está a descoberta do verdadeiro significado do amor.

Só o amor explica porque os temos. Só o amor explica porque nada disso nos importa. Só o amor explica porque são imprescindíveis em nossas vidas. Só o amor explica o porquê desse amor incondicional e infindo.

E a verdade é uma só, inquestionável e insofismável. Amamos vocês, nossos sempre pequenos e adoráveis predadores.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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