Chove desde cedo aqui no interior de São Paulo, aquela chuva fina, benfazeja, que sacia a terra, fertiliza o solo, alimenta plantas e bichos. Faz sol há meses, em um março incomumente quente, quando, por essa altura do ano, os termômetros começam a baixar. Mas eu tinha uma certeza: Sexta Feira Santa choveria.
Era assim desde que eu era um menino, na zona norte do Rio: fazia calor, embora os verões nem fossem tão calcinantes, mas, ao chegar o mês de abril, ninguém duvidava: choveria na Sexta Feira Santa. E abriria um magnífico sol no Sábado de Aleluia. E eu lembro da história que ouvi de um taxista uma vez: sua avó disse a ele, também menino, que os passarinhos que cantavam todos os dias, ficariam em silêncio na Sexta Feira da Paixão. Dito e feito.
São pequenos milagres como esse, as aves emudecidas em respeito à data, que me fazem recordar as palavras do soldado romano, ao ver o terremoto e todas as coisas que aconteceram, naquele dia, há dois mil anos, tão importante para a humanidade:
– Verdadeiramente Este era o Filho de Deus!
São os pequenos milagres que me fazem ter, ainda mais, certeza.
São os pequenos milagres que me fazem, ainda mais, crer.
Como a chuva que vem, na Sexta Feira da Paixão.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.