30 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Notícia falsa

Nesta semana o Estadão se prestou ao papel de divulgar uma notícia falsa com o único intuito de balançar a estrutura do atual governo.

Envolveu Braga Netto, o ministro da Defesa, como tendo sido o porta-voz de uma ameaça da não realização das próximas eleições,  caso não fosse instituído o voto impresso.

Nunca foi verdade. Foi armação grotesca do próprio jornal, que imbuiu-se de um heroísmo que não tem e nem é seu papel. Fake daquelas para ver se cola, capitaneada junto à esquerda descontente que não demonstra zelo pela democracia, desde as últimas eleições. 

A enxurrada de mentiras que têm escoado diariamente da mídia,  nos corredores do congresso e do senado e nas hordas da política é impressionante. Evidentes tentativas de derrubada do governo, democraticamente eleito. É o jogo do tudo fácil e para ontem. Esperar mais um ano para quê? Ver o adversário empossado novamente? É por isso que está faltando paciência e ética.

A oposição teve chance igual nas últimas eleições, não fosse pelos sucessivos escândalos do Mensalão,  Petrolão, Lava-Jato, a condenação e prisão de Lula. Talvez, o quadro fosse outro.

Não seria preciso todo esse conluio de algumas lideranças ressentidas e a imprensa militante para cavar um impeachment, antes das próximas eleições.

Algumas vezes dá certo, outras não. A mentira mais bem sucedida da nossa República, foi a sua própria instalação, de acordo com o escritor brasileiro Laurentino Gomes. Ele garante que a maior fake do país  foi a Proclamação da República, que pode ser comprovada no livro de sua autoria “1889”.

O Marechal Deodoro da Fonseca foi praticamente arrastado a liderar o movimento republicano porque estava acamado, muito doente. Mas, vaidoso, aceitou a missão de liderar o golpe militar.

Imagem: Google Imagens – Prefeitura de Lorena – SP

O Imperador D. Pedro II estava há 50 anos no poder, conferido a ele por Portugal. Era o sucessor de seu pai, D.Pedro I, herdeiro da família real portuguesa. Ele era um monarca competente,  benquisto pelos brasileiros. Mas, as coisas não vinham bem desde a Guerra com o Paraguai, entre 1864 e 1870. Havia muitas disputas políticas entre liberais e conservadores. E a economia não respondias às expectativas.

Com a abolição da escravatura, a situação piorou.

As oligarquias ficaram descontentes com os revezes da política econômica. O fato promoveu uma desestabilização na agricultura de exportação e o império não teria respondido às necessidades de adaptação à nova ordem, com a velocidade necessária. Os grandes fazendeiros não ficaram nem um pouco satisfeitos em perder a mão de obra escrava. O caldo desandou.

O republicanismo, que havia se fortalecido na última década, recebeu apoio do movimento militar e de republicanos históricos como Américo Brasiliense, Francisco Rangel Pestana e os juristas Antônio Luís dos Santos Werneck e José Antônio Pedreira de Magalhães Castro.

O fato é que o Marechal Deodoro, o líder do golpe, estava tão incapacitado que, no dia 15 de novembro, foi José do Patrocínio que se dirigiu à Câmara para presidir a solenidade de Proclamação da República. Os ministros da monarquia foram depostos.

D.Pedro II já vinha desgastado depois de tantos anos no poder, mesmo sendo um personagem querido pelo público, vários setores da sociedade demonstravam o desejo de independência definitiva dos portugueses.

No dia seguinte à Proclamação, foi expedida ordem de prisão contra ele, assinado por Benjamin Constant, líder dos oficiais republicanos. Coube ao Barão de Jaceguay convencê-lo a deixar o país, embora D.Pedro quisesse resistir. Estava sozinho.

Numa rápida partida, pela madrugada, a família real portuguesa deixou seus bens para trás, só com 800 contos de réis. Porém, os novos constituintes tiveram uma verba de 5 mil contos de réis para fazer a coisa toda. Meteram a mão na cumbuca. Talvez, o embrião da má política e a apropriação desmedida das verbas públicas.

Dois anos depois da Proclamação, o ex-soberano do Brasil morreu no exílio de pneumonia.

O Marechal Deodoro foi empossado como presidente provisório por dois anos.

Ao cabo desse período assumiu a presidência por voto indireto. No mesmo ano, após grandes tensões políticas, renunciou ao cargo. Morreu em 1902, devido aos problemas de saúde que já sofria.

O golpe na monarquia deu certo e a fake também. Mas a guerra de poder e de vaidades que cerca a vida política, não é fake em qualquer tempo.

O que não cabe nesse cenário e em nenhum outro é a imprensa querer cavar um golpe, como tem acontecido no Brasil.  A imprensa reporta, não inventa.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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